segunda-feira, 1 de setembro de 2014
O Rebu - Considerações
Faz tempo que não escrevo aqui. Acabei me dedicando quase exclusivamente ao cinema e ao meu outro site, o CinePipocaCult. Tenho visto pouco televisão, muito menos telenovela, então, ficou complicado continuar falando sobre ela por aqui.
Mas, como o interesse e estudo nunca cessaram, outros projetos me fizeram mergulhar na nova obra da Rede Globo, o remake da telenovela O Rebu, que veio nesse novo formato da emissora, uma novela menor, com 36 capítulos que vai ao ar no horário das 23 horas. O antigo espaço das "novelas das dez" da década de 70 e das minisséries nas décadas de 80 e 90.
Faço parte do grupo A-Tevê, da Faculdade de Comunicação da UFBA, que acaba de lançar o projeto de extensão chamado Estação do Drama. Por causa dele, a pedido da coordenadora Maria Carmem Jacob, comecei a esboçar análises periódicas sobre a telenovela. Até por ser uma obra que se baseia no romance policial e na estratégia do Quem matou? que foi o meu objeto de estudo no mestrado.
Para não repetir tudo aqui, convido-os a ler os textos no blog Telerrascunho, continuarei a escrever até o final da trama e a medida que forem saindo, atualizo aqui.
O Rebu - Promessas e sombras
O Rebu e as escolhas narrativas
O Rebu e a necessidade de romance
O Rebu - Reta Final
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Amanda Aouad
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sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Guerra dos Sexos: Tiro no pé?
Em 1983, Sílvio de Abreu emplacou um enorme sucesso. Nunca reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, Guerra dos Sexos figurava no imaginário brasileiro a ponto de ser uma das mais pedidas em reprise. No Brasil, a telenovela foi reapresentada apenas em um compacto no ano de 1989 na extinta Sessão Aventura.
Vários fatores levaram essa novela ao sucesso. Primeiro, o elenco. Reunir no time principal nomes como Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Tarcísio Meira e Glória Menezes não era para todos. Isso sem falar nos coadjuvantes de luxo como Yara Amaral, Ary Fontoura, Lucélia Santos, Maria Zilda e Marilu Bueno. E o elenco jovem de nomes expoentes da época como Maitê Proença, Mário Gomes, José Mayer, Cristina Pereira, Diogo Viela e até um, quase estreante, Edson Celulari.
Tinha também a época. Guerra dos Sexos falou de um tema que estava no auge, a briga entre homens e mulheres. Foi também uma telenovela inovadora, que ousou ao destacar a beleza masculina, coisa que não era comum na televisão, principalmente com o personagem Nando de Mário Gomes que estava sempre mostrando os músculos e uma tatuagem bem anos 80 no peito. Isso sem falar nas inúmeras referências à própria televisão, principalmente com a personagem Nieta, de Yara Amaral que estava sempre citando os galãs de novela e os personagens marcantes. Há uma cena hilária dela com Paulo Autran conversando sobre o personagem do ator na novela Pai Herói, por exemplo. Além claro da brincadeira de colocar Tarcísio e Glória, o casal símbolo da televisão, como rivais.
Tudo isso fazia sentido e, não por acaso, foi sucesso. Misteriosamente, o que ficou para o público em geral nas milhares de homenagens rendidas à telenovela foi a famosa e famigerada cena do café da manhã, onde Otávio e Charlô se lambuzavam com os diversos ingredientes do desejum em uma cena hilária, realmente, mas que não traduz a telenovela. E parece que os criadores dessa nova versão, que por sinal são os mesmos da original, querem manter essa aura tola, vide o que fizeram com essa cena.
Para começar, a cena foi gancho do capítulo de quarta para quinta-feira. O gancho. Como se todos estivessem esperando apenas por essa cena reprisada na nova versão. Depois, eles usaram flashes da cena original, como se fosse uma lembrança de Olívia. Uma homenagem ou o atestado de que o original é o que todos queriam ver? Isso ainda foi um tiro no pé, pois além da comparação óbvia, ainda fica o atestado de que nem mesmo o roteiro foi atualizado. Estamos vendo uma cópia mal feita da versão de 1983.
Esse atestado de cópia traz outros problemas. Estamos em 2012 e as falas machistas e feministas soam deslocadas do tempo. As situações ficam forçadas, sem sentido, sem uma identificação com o público jovem atual. A homenagem ainda trouxe uma incongruência. Se estamos vendo a história de Charlô II e Otávio II, porque tudo é exatamente igual? E como eles são sobrinhos do casal anterior se eles não tinham irmãos, apenas os parentes distantes portugueses?
Mas, esses são apenas detalhes, o problema é mesmo querer repetir uma história que já foi. Até os atores estão deslocados, construindo em vez de personagens, caricaturas das interpretações dos personagens anteriores. Reynaldo Gianecchini é o que mais está sofrendo com isso, ao tentar imitar os trejeitos atrapalhados de Mário Gomes. Mas, até em Tony Ramos, que está sempre ótimo como Otávio, é possível ver um eco de Paulo Autran, a começar pelo bigode branco sendo ajeitado como um tique nervoso. Isso sem falar que está branco daquele jeito para puxar o mistério do bigode preto.
Há também o problema de adequação do personagem ao papel. Reynaldo Gianecchini é um galã, não há dúvidas. Lindo, não tanto com a caracterização do personagem, mas capaz de chamar a atenção de qualquer mulher. E tem um bom físico, mas não chega a ser o destaque da telenovela, ainda mais ao lado de Eriberto Leão que está com os músculos muito mais definidos. Então, repetir a mesma situação onde Roberta Leone fica impressionada com o "físico" de Nando quando o vê pela primeira vez, já tendo visto Ulisses sem camisa em uma cena anterior, não deixa de ser estranho. É muito diferente de ver Mário Gomes na época sem camisa, comparado a José Mayer que sempre foi magro. Bastava ela dizer algo como "que homem bonito", em vez de "que físico". É esse tipo de adaptação que poderia ser feito, sem doer a ninguém. Mas, ainda bem que não inventaram uma barba falsa para o Giane só para manter o bordão de Felipe de chamá-lo de macaco barbudo.
Outro grande problema do novo elenco está em Roberta Leone e Felipe. A graça de suas eternas brigas e insinuações de que poderiam ser um casal estava no fato de serem interpretados por Tarcísio e Glória, não apenas casados na vida real, como par romântico em diversas novelas. Ver Glória Pires e Edson Celulari reprisando essas cenas não tem o mesmo sentido. Fica até deslocado em alguns momentos. Se ele ainda fosse casado com Cláudia Raia e ela fosse a Roberta, talvez pudesse funcionar. Até porque o casal começou a namorar em uma novela de Sílvio de Abreu. Poderia ser uma boa brincadeira.
Quando foi anunciado o remake de Guerra dos Sexos, Sílvio de Abreu garantiu que iria fazer uma atualização do texto, adaptando para a época em que estamos. Uma pena que até agora não é isto que estamos vendo em tela. A maioria das falas e cenas é exatamente igual à original. Se era para ser assim, seria muito melhor uma reprise. De preferência no Canal Viva que seria na íntegra. Mas, um edição no Vale a Pena Ver de Novo já seria um ótimo presente a todos os fãs da telenovela.
Para não dizer que nada nessa nova versão é melhor que a original, temos que elogiar a abertura. A de 83 era meio sem noção com homens e mulheres em exercícios físicos diversos. Aqui, pelo menos uma divertida animação, com a cena do café da manhã, claro, nos leva a diversos "casais" no reino animal em guerra.
Vários fatores levaram essa novela ao sucesso. Primeiro, o elenco. Reunir no time principal nomes como Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Tarcísio Meira e Glória Menezes não era para todos. Isso sem falar nos coadjuvantes de luxo como Yara Amaral, Ary Fontoura, Lucélia Santos, Maria Zilda e Marilu Bueno. E o elenco jovem de nomes expoentes da época como Maitê Proença, Mário Gomes, José Mayer, Cristina Pereira, Diogo Viela e até um, quase estreante, Edson Celulari.
Tinha também a época. Guerra dos Sexos falou de um tema que estava no auge, a briga entre homens e mulheres. Foi também uma telenovela inovadora, que ousou ao destacar a beleza masculina, coisa que não era comum na televisão, principalmente com o personagem Nando de Mário Gomes que estava sempre mostrando os músculos e uma tatuagem bem anos 80 no peito. Isso sem falar nas inúmeras referências à própria televisão, principalmente com a personagem Nieta, de Yara Amaral que estava sempre citando os galãs de novela e os personagens marcantes. Há uma cena hilária dela com Paulo Autran conversando sobre o personagem do ator na novela Pai Herói, por exemplo. Além claro da brincadeira de colocar Tarcísio e Glória, o casal símbolo da televisão, como rivais.
Tudo isso fazia sentido e, não por acaso, foi sucesso. Misteriosamente, o que ficou para o público em geral nas milhares de homenagens rendidas à telenovela foi a famosa e famigerada cena do café da manhã, onde Otávio e Charlô se lambuzavam com os diversos ingredientes do desejum em uma cena hilária, realmente, mas que não traduz a telenovela. E parece que os criadores dessa nova versão, que por sinal são os mesmos da original, querem manter essa aura tola, vide o que fizeram com essa cena.
Para começar, a cena foi gancho do capítulo de quarta para quinta-feira. O gancho. Como se todos estivessem esperando apenas por essa cena reprisada na nova versão. Depois, eles usaram flashes da cena original, como se fosse uma lembrança de Olívia. Uma homenagem ou o atestado de que o original é o que todos queriam ver? Isso ainda foi um tiro no pé, pois além da comparação óbvia, ainda fica o atestado de que nem mesmo o roteiro foi atualizado. Estamos vendo uma cópia mal feita da versão de 1983.
Esse atestado de cópia traz outros problemas. Estamos em 2012 e as falas machistas e feministas soam deslocadas do tempo. As situações ficam forçadas, sem sentido, sem uma identificação com o público jovem atual. A homenagem ainda trouxe uma incongruência. Se estamos vendo a história de Charlô II e Otávio II, porque tudo é exatamente igual? E como eles são sobrinhos do casal anterior se eles não tinham irmãos, apenas os parentes distantes portugueses?
Mas, esses são apenas detalhes, o problema é mesmo querer repetir uma história que já foi. Até os atores estão deslocados, construindo em vez de personagens, caricaturas das interpretações dos personagens anteriores. Reynaldo Gianecchini é o que mais está sofrendo com isso, ao tentar imitar os trejeitos atrapalhados de Mário Gomes. Mas, até em Tony Ramos, que está sempre ótimo como Otávio, é possível ver um eco de Paulo Autran, a começar pelo bigode branco sendo ajeitado como um tique nervoso. Isso sem falar que está branco daquele jeito para puxar o mistério do bigode preto.
Há também o problema de adequação do personagem ao papel. Reynaldo Gianecchini é um galã, não há dúvidas. Lindo, não tanto com a caracterização do personagem, mas capaz de chamar a atenção de qualquer mulher. E tem um bom físico, mas não chega a ser o destaque da telenovela, ainda mais ao lado de Eriberto Leão que está com os músculos muito mais definidos. Então, repetir a mesma situação onde Roberta Leone fica impressionada com o "físico" de Nando quando o vê pela primeira vez, já tendo visto Ulisses sem camisa em uma cena anterior, não deixa de ser estranho. É muito diferente de ver Mário Gomes na época sem camisa, comparado a José Mayer que sempre foi magro. Bastava ela dizer algo como "que homem bonito", em vez de "que físico". É esse tipo de adaptação que poderia ser feito, sem doer a ninguém. Mas, ainda bem que não inventaram uma barba falsa para o Giane só para manter o bordão de Felipe de chamá-lo de macaco barbudo.
Outro grande problema do novo elenco está em Roberta Leone e Felipe. A graça de suas eternas brigas e insinuações de que poderiam ser um casal estava no fato de serem interpretados por Tarcísio e Glória, não apenas casados na vida real, como par romântico em diversas novelas. Ver Glória Pires e Edson Celulari reprisando essas cenas não tem o mesmo sentido. Fica até deslocado em alguns momentos. Se ele ainda fosse casado com Cláudia Raia e ela fosse a Roberta, talvez pudesse funcionar. Até porque o casal começou a namorar em uma novela de Sílvio de Abreu. Poderia ser uma boa brincadeira.
Quando foi anunciado o remake de Guerra dos Sexos, Sílvio de Abreu garantiu que iria fazer uma atualização do texto, adaptando para a época em que estamos. Uma pena que até agora não é isto que estamos vendo em tela. A maioria das falas e cenas é exatamente igual à original. Se era para ser assim, seria muito melhor uma reprise. De preferência no Canal Viva que seria na íntegra. Mas, um edição no Vale a Pena Ver de Novo já seria um ótimo presente a todos os fãs da telenovela.
Para não dizer que nada nessa nova versão é melhor que a original, temos que elogiar a abertura. A de 83 era meio sem noção com homens e mulheres em exercícios físicos diversos. Aqui, pelo menos uma divertida animação, com a cena do café da manhã, claro, nos leva a diversos "casais" no reino animal em guerra.
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domingo, 25 de setembro de 2011
Quem quiser que conte outra
O final de Cordel Encantado deixa um vazio na teledramaturgia brasileira, mesmo sendo esticada e tendo que dar algumas enroladas para render mais história que o previsto Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão estão de parabéns por conseguir inovar o melodrama de uma maneira tão encantadora. A quantidade de referência foi enorme, e era uma diversão identificá-las a cada capítulo, mas o que chama a atenção é a mistura perfeita de conto de fadas com literatura de cordel que as autoras conseguiram imprimir de uma maneira tão agradável de acompanhar.
Amora Mautner e a equipe de direção, captaneados pelo diretor de núcleo Ricardo Waddington também merecem todos os elogios. Cordel Encantado não foi cuidadosa apenas no início, final e cenas importantes. Cada cena, cada capítulo tinha um cuidado especial na direção e fotografia que ajudavam a criar o clima da história e nos envolver a cada dia. Isso sem falar do trabalho da equipe de arte com tantas roupas, assessórios e cenários misturando época, serão nordestino e reinos distantes. Um cuidado especial em cada detalhe.
A última semana teve vários momentos grandiosos e o mais interessante foi ver o fechamento do ciclo com o sonho de Miguelzinho e do Rei Augusto no primeiro capítulo se concretizar no penúltimo com Timóteo colocando fogo em tudo e Jesuino chegando para salvar a flor Açucena. Um ciclo que se fecha e confirma que as autoras já sabiam onde queriam chegar desde o princípio.
Após a resolução de boa parte das tramas no penúltimo capítulo, ficava a pergunta do que seria do derradeiro epsódio daquela saga sertaneja. Vimos com emoção, a morte de Timóteo queimado, enquanto todos esperavam Açucena acordar novamente de seu sono profundo. Assim, como acompanhamos o sacrifício de Úrsula, provando no final que realmente havia se apaixonado pelo capitão Herculano a ponto de encontrar sua redenção morrendo nos braços do amado. Com quase todos felizes ou encaminhados, o capítulo de quinta-feira acabou com a coroação de Jesuíno em Seráfia. Faltava pouca coisa realmente.
Talvez aí tenha sido o único pecado de Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão. Ao último capítulo restou apenas uma espécie de epílogo da história. Claro que vimos finalmente o casamento de Jesuíno e Açucena, em uma cena divertida e emocionante da confirmação do amor de princesa e cangaceiro anunciados desde a abertura da novela. Vimos também os clássicos nascimentos de bebês e reunião de casais. Mas, o capítulo acabou ficando arrastado, faltando maiores emoções, o que acabou criando uma nova peripércia final: a candidatura de prefeitos a Brogodó. A candidatura e todo o desenrolar da trama de Zóio Furado, foram o ponto negativo da trama, assim como a volta de Ternurinha para os braços de Patácio.
E quando tudo parecia um verdadeiro conto de fadas, Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão lembraram ao seu público que se tratava mesmo de uma literatura de cordel. Vimos então, irritados, o retorno do coronel, encarnado na figura de Caco Ciocler, tendo novamente Zóio Furado como seu braço direito. Todo o discurso de Jesúino sobre a eterna luta do bem contra o mau, é real, mas não deixa de ser frustrante para aqueles que queriam ver um "e foram felizes para sempre". Interessante foi a conclusão em um forró qualquer onde o cordel foi recitado para um público "real", inclusive as três escritoras. Terminando com os atores Bianca Bin e Cauã Reymond interpretando uma espécie de novos Açucena e Jesuíno da vida "real", reconstruíndo a fantasia da história.
Entre altos e baixos, Cordel Encantado vai entrar para história da teledramaturgia brasileira. Por sua qualidade técnica, por seu elenco afinado, por sua história criativa e encantadora como poucas atualmente. E claro, como consequência de tudo isso, por sua enorme audiência, sempre batendo recordes do horário. Vai deixar saudades. E como dizia um programa infantil que adorava ao final de cada história: "Entrou por uma porta, saiu pela outra, e quem quiser que conte outra".
Amora Mautner e a equipe de direção, captaneados pelo diretor de núcleo Ricardo Waddington também merecem todos os elogios. Cordel Encantado não foi cuidadosa apenas no início, final e cenas importantes. Cada cena, cada capítulo tinha um cuidado especial na direção e fotografia que ajudavam a criar o clima da história e nos envolver a cada dia. Isso sem falar do trabalho da equipe de arte com tantas roupas, assessórios e cenários misturando época, serão nordestino e reinos distantes. Um cuidado especial em cada detalhe.
A última semana teve vários momentos grandiosos e o mais interessante foi ver o fechamento do ciclo com o sonho de Miguelzinho e do Rei Augusto no primeiro capítulo se concretizar no penúltimo com Timóteo colocando fogo em tudo e Jesuino chegando para salvar a flor Açucena. Um ciclo que se fecha e confirma que as autoras já sabiam onde queriam chegar desde o princípio.
Após a resolução de boa parte das tramas no penúltimo capítulo, ficava a pergunta do que seria do derradeiro epsódio daquela saga sertaneja. Vimos com emoção, a morte de Timóteo queimado, enquanto todos esperavam Açucena acordar novamente de seu sono profundo. Assim, como acompanhamos o sacrifício de Úrsula, provando no final que realmente havia se apaixonado pelo capitão Herculano a ponto de encontrar sua redenção morrendo nos braços do amado. Com quase todos felizes ou encaminhados, o capítulo de quinta-feira acabou com a coroação de Jesuíno em Seráfia. Faltava pouca coisa realmente.
Talvez aí tenha sido o único pecado de Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão. Ao último capítulo restou apenas uma espécie de epílogo da história. Claro que vimos finalmente o casamento de Jesuíno e Açucena, em uma cena divertida e emocionante da confirmação do amor de princesa e cangaceiro anunciados desde a abertura da novela. Vimos também os clássicos nascimentos de bebês e reunião de casais. Mas, o capítulo acabou ficando arrastado, faltando maiores emoções, o que acabou criando uma nova peripércia final: a candidatura de prefeitos a Brogodó. A candidatura e todo o desenrolar da trama de Zóio Furado, foram o ponto negativo da trama, assim como a volta de Ternurinha para os braços de Patácio.
E quando tudo parecia um verdadeiro conto de fadas, Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão lembraram ao seu público que se tratava mesmo de uma literatura de cordel. Vimos então, irritados, o retorno do coronel, encarnado na figura de Caco Ciocler, tendo novamente Zóio Furado como seu braço direito. Todo o discurso de Jesúino sobre a eterna luta do bem contra o mau, é real, mas não deixa de ser frustrante para aqueles que queriam ver um "e foram felizes para sempre". Interessante foi a conclusão em um forró qualquer onde o cordel foi recitado para um público "real", inclusive as três escritoras. Terminando com os atores Bianca Bin e Cauã Reymond interpretando uma espécie de novos Açucena e Jesuíno da vida "real", reconstruíndo a fantasia da história.
Entre altos e baixos, Cordel Encantado vai entrar para história da teledramaturgia brasileira. Por sua qualidade técnica, por seu elenco afinado, por sua história criativa e encantadora como poucas atualmente. E claro, como consequência de tudo isso, por sua enorme audiência, sempre batendo recordes do horário. Vai deixar saudades. E como dizia um programa infantil que adorava ao final de cada história: "Entrou por uma porta, saiu pela outra, e quem quiser que conte outra".
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domingo, 21 de agosto de 2011
Estamos mesmo ficando moralistas?
Em 1988, a personagem Maria de Fátima aprontou todo tipo de maldades, mas terminou ao lado de seu amante César Ribeiro em um acordo nupcial bastante escandaloso com um príncipe distante. Era um triângulo amoroso moderno movido por dinheiro. Tudo certo, ninguém pensou em puni-la. Vinte e três anos depois, a mesma atriz interpreta uma ingênua enfermeira que é presa ao ser enganada pelo namorado, corrompida pelo ódio e maus tratos na cadeia, se transformando em uma vingadora sem escrúpulos. Tanto que acaba provocando a morte de seu marido rico. Dessa vez, os autores acham mais ético puní-la e, faltando três capítulos para o final, Norma é assassinada gerando o oitavo "Quem matou?" da carreira de Gilberto Braga.
O próprio autor declarou que Norma precisava ser punida por seus crimes. E Maria de Fátima não? A moral e bons constumes reinou em Insensato Coração como não se via há muito tempo em telenovelas. A garota Cecília, por exemplo, vivida por Giovanna Lancelotti caiu na lábia do "bad boy" Vinícius de quem engravidou. Mas, na reta final ela perde o bebê e o vínculo com o marginal em uma das decisões mais chocantes na trama. Afinal, não fez muito sentido a visita da garota ao ex na cadeia para pedir que ele ficasse "longe do filho". Como também não fez sentido o empurrão dele, e a forma fácil com que ela perdeu a criança. Basta comparar com a já citada Maria de Fátima que rolou da escadaria do Municipal para perder o bebê que esperava de César e não conseguiu. Parecia que os autores queriam mesmo poupar a menina e o personagem Rafa, seu namorado, de criar o filho de um marginal.
Outra situação moralista foi o desenrolar do personagem André, mulherengo convicto que teve seu pecado pago com um câncer nos testículos. Aliás, toda a cena de descoberta da doença foi vergonhosa. O rapaz não teve nem a chance de se regenerar com sua amada Carol, Camila Pitanga, que acabou casando mesmo com Raul, Antônio Fagundes. Parece que a moral só não falou mais alto no caso da personagem Natalie de Débora Secco que não apenas ficou rica, como se elegeu deputada federal em um misto de crítica às mulhres frutas eleitas e Tiririca, já que ela chegou a citar a famosa frase do palhaço na campanha: "O que faz um deputado? Também não sei, mas vota em mim que eu te conto".
Voltando àa Norma, é interessante perceber como Glória Pires tomou a novela para si. A personagem se tornou protagonista absoluta da trama, sendo sua trajetória de vingança muito mais interessante do que o insosso romance de Pedro e Marina. Até por isso, sua morte foi tão surpreendente e, por algum lado, frustrante. Tanto esforço acabou em três balas disparadas em seu peito por Wanda, uma mãe jocastiana em defesa do seu pimpolho querido. Mas, nem tudo acabou na terça-feira. Mais surpreendente que descobrir que Wanda matou a quase nora, foi perceber que Norma já tinha deixado seu plano de vingança arquitetado. Ela iria mandar prender Léo e ele seria morto na cadeia por Cortez. Norma só não contava ser morta e não poder desfrutar de sua vingança.
Entre erros e acertos, Insensato Coração não é das piores novelas que já foram exibidas no horário nobre como muitos estão afirmando. Tem uma boa estratégia e sempre grandes diálogos, marca de Gilberto Braga que Ricardo Linhares está acompanhando, claro que há exceções, como no caso já citado da doença de André, mas no geral, acompanhamos bons momentos como a cena em que Eunice conversa com o marido Júlio, por exemplo, logo depois de chegar da delegacia. Ou a sutileza da cena entre Wanda e Raul, com a revelação da falsa morte de Léo. Uma novela que não deixa muitas saudades, mas marca uma época em que o politicamente correto e a faixa indicativa de horário dominam o conteúdo televisivo.
O próprio autor declarou que Norma precisava ser punida por seus crimes. E Maria de Fátima não? A moral e bons constumes reinou em Insensato Coração como não se via há muito tempo em telenovelas. A garota Cecília, por exemplo, vivida por Giovanna Lancelotti caiu na lábia do "bad boy" Vinícius de quem engravidou. Mas, na reta final ela perde o bebê e o vínculo com o marginal em uma das decisões mais chocantes na trama. Afinal, não fez muito sentido a visita da garota ao ex na cadeia para pedir que ele ficasse "longe do filho". Como também não fez sentido o empurrão dele, e a forma fácil com que ela perdeu a criança. Basta comparar com a já citada Maria de Fátima que rolou da escadaria do Municipal para perder o bebê que esperava de César e não conseguiu. Parecia que os autores queriam mesmo poupar a menina e o personagem Rafa, seu namorado, de criar o filho de um marginal.
Outra situação moralista foi o desenrolar do personagem André, mulherengo convicto que teve seu pecado pago com um câncer nos testículos. Aliás, toda a cena de descoberta da doença foi vergonhosa. O rapaz não teve nem a chance de se regenerar com sua amada Carol, Camila Pitanga, que acabou casando mesmo com Raul, Antônio Fagundes. Parece que a moral só não falou mais alto no caso da personagem Natalie de Débora Secco que não apenas ficou rica, como se elegeu deputada federal em um misto de crítica às mulhres frutas eleitas e Tiririca, já que ela chegou a citar a famosa frase do palhaço na campanha: "O que faz um deputado? Também não sei, mas vota em mim que eu te conto".
Voltando àa Norma, é interessante perceber como Glória Pires tomou a novela para si. A personagem se tornou protagonista absoluta da trama, sendo sua trajetória de vingança muito mais interessante do que o insosso romance de Pedro e Marina. Até por isso, sua morte foi tão surpreendente e, por algum lado, frustrante. Tanto esforço acabou em três balas disparadas em seu peito por Wanda, uma mãe jocastiana em defesa do seu pimpolho querido. Mas, nem tudo acabou na terça-feira. Mais surpreendente que descobrir que Wanda matou a quase nora, foi perceber que Norma já tinha deixado seu plano de vingança arquitetado. Ela iria mandar prender Léo e ele seria morto na cadeia por Cortez. Norma só não contava ser morta e não poder desfrutar de sua vingança.
Entre erros e acertos, Insensato Coração não é das piores novelas que já foram exibidas no horário nobre como muitos estão afirmando. Tem uma boa estratégia e sempre grandes diálogos, marca de Gilberto Braga que Ricardo Linhares está acompanhando, claro que há exceções, como no caso já citado da doença de André, mas no geral, acompanhamos bons momentos como a cena em que Eunice conversa com o marido Júlio, por exemplo, logo depois de chegar da delegacia. Ou a sutileza da cena entre Wanda e Raul, com a revelação da falsa morte de Léo. Uma novela que não deixa muitas saudades, mas marca uma época em que o politicamente correto e a faixa indicativa de horário dominam o conteúdo televisivo.
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sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Quem matou Salomão Hayalla?
A pergunta com a qual Janete Clair parou o Brasil em 1978 voltou ontem à noite. No capítulo, Salomão Hayalla, agora interpretado por Daniel Filho, foi assassinado por alguém misterioso, que agora deixou um botão branco como pista. Será que o Brasil vai se movimentar novamente em torno da pergunta fatídica? Pelo menos no twitter ela apareceu inúmeras vezes enquando o capítulo era exibido.
Mas, engana-se quem acredita que esse foi o primeiro "Quem Matou" em telenovelas. Nem mesmo foi Janete Clair, como muitos afirmam, que introduziu o mistério policial nas tramas. Em 1966, Glória Magadan criou o personagem "Rato", primeiro serial killer no gênero televisivo que matou metade do elenco para proteger o tal Sheik. No final da novela, revelou-se que o Rato era a princesa Eden de Bassora. Janete Clair só iria utilizar esse recurso em 1969 na telenovela Véu de Noiva e quase por acaso. O ator Geraldo Del Rey, que fazia o Luciano pediu para sair da trama. Clair, então, criou o assassinato misterioso. "Quem matou Luciano?" não fez tanto sucesso assim, mas marcou o gênero. A assassina foi a personagem de Ana Ariel.
Mesmo com esses dois mistérios, além de um utilizado por Dias Gomes também sem muita repercussão, o "Quem matou Salomão Hayalla?" foi o primeiro grande mistério nacional. O Brasil inteiro se perguntava o nome do assassino, vários bolões foram feitos, a imprensa explorou bastante o mistério e até mesmo o ator Edwin Luisi ficou na dúvida se seu personagem Felipe seria o assassino ou não. Naquela época, Janete Clair não tinha tanta preocupação com o mistério e quando convidou o ator para a telenovela já ofereceu o papel do assassino de Salomão Hayalla. Mas, as reviravoltas só serviram para surpreender a todos com a confirmação do nome do assassino.
A pergunta "Quem matou Salomão Hayalla?" só foi superada em 1988, com o famoso "Quem matou Odete Roitman?" na telenovela Vale Tudo, recentemente reprisada no Canal Viva. Todo o Brasil parou novamente em torno da pergunta e o Caldo Maggi fez um concurso nacional com um prêmio em dinheiro para quem acertasse o mistério. Dez anos depois, a indústria da televisão já estava mais organizada e o esquema para encobrir o nome do assassino teve que ser melhor organizado. Os autores chegaram a escrever cinco finais diferentes e a cena da revelação só foi gravada no dia em que o capítulo foi ao ar. No final, o Brasil se surpreendeu com a notícia de que Leila havia matado a empresária por engano. Queria matar Maria de Fátima que estava tendo um caso com seu marido, Marco Aurélio.
Os autores de Vale Tudo ainda iriam repetir a fórmula de mistério. Aguinaldo Silva, que assinou a co-autoria da trama, apesar de hoje abominar o recurso, utilizou na trama seguinte com o "Quem matou Arturzinho da Tapitanga?". Já Gilberto Braga, o autor principal, dono da sinopse, já havia utilizado a fórmula em Água Viva, com "Quem matou Miguel Fragonari?" e na minissérie Anos Dourados com "Quem matou Lutero?". Anos depois, essa pergunta se tornaria uma marca autoral, já que a partir da minissérie Labirinto, em 1998, todas as duas tramas teriam um "Quem matou?". E muitos já anunciaram e esperam a pergunta em sua atual telenovela: Insensato Coração. "Quem matou Tais Grinaldi?" em Paraíso Tropical. "Quem matou Lineu Vasconcellos?" em Celebridade. E finalmente, o que considero a melhor solução: "Quem matou o Barão Henrique Sobral?" em Força de Um Desejo.
Por que Força de um Desejo tem a melhor solução? Porque a resposta foi completamente surpreendente e coerente ao mesmo tempo. Bárbara Ventura era a última personagem em quem alguém iria apostar as fichas para o nome da assassina. Ela era o alívio cômico da trama. Todas as pistas levavam para a Fazenda Morro Alto e se fosse Higino Ventura o responsável seria muito óbvio. Ser sua esposa por si só não diz muito, mas quando foi explicado o início do assassinato em série, tudo fez um sentido imenso. Bárbara matou a baronesa Helena Sobral, paixão de adolescência de seu marido. O resto foi consequência para encobrir o primeiro crime.
Além disso, a solução da trama foi explicada com cenas da telenovela. Hoje, analisando-a com detalhes posso perceber que desde o início os indícios estavam lá. São muitos detalhes que parecem passar despercebidos como a tentativa de aproximação de Bárbara de pessoas que conhecessem a baronesa. A cumplicidade do capanga Vitório ao fazer com que o médico Xavier voltasse a ser o médico dos Ventura, a doação dos remédios da baronesa Helena à Xavier, após sua morte, fazendo com que o médico pudesse descobrir o primeiro assassinato de Bárbara e fosse morto por isso. A aparição de Bárbara no bar, na noite em que o padre foi assassinado. A escrava da fazenda dos Castro Rebelo e seu medo de Higino Ventura, a ligação das mortes pelo remédio. A visita do Barão ao amigo Castro Rebelo no dia de sua morte. A necessidade de falar com Alice. Enfim, tudo se encaixa perfeitamente. Para completar, a forma como tudo foi descoberto foi muito divertido, com uma falsa notícia de confissão de Higino Ventura, que fez Bárbara confessar o crime.
Outros autores também já utilizaram do recurso, como Lauro César Muniz e Sílvio de Abreu, este tendo até mesmo realizado uma telenovela totalmente voltada para um serial killer: A Próxima Vítima. A trama fez um enorme sucesso revelando o nome de Adalberto como o assassino na versão brasileira. Já em Portugal, o final exibido foi com Ulisses como responsável pelas mortes, esse final foi exibido também na versão do Vale a Pena Ver de Novo da Rede Globo. A última telenovela de Sílvio de Abreu também teve um assassinato. Primeiro ele fez uma tentativa de repetir o mistério de O Rebu com a pergunta "Quem morreu?", mas não funcionou direito, pois no capítulo vários personagens brigaram com o personagem Saulo, dando indícios que ele seria o assassinado.
O fato é que, bem feito ou não, com muita ou pouca repercussão, mistério policial e telenovela parece mesmo um bom casamento para a boa audiência. Resta saber como será a repercussão desse novo "Quem matou Salomão Hayalla?" e se isso vai fazer Gilberto Braga e Ricardo Linhares desistirem de perguntar ao país "Quem matou Léo?"
Mas, engana-se quem acredita que esse foi o primeiro "Quem Matou" em telenovelas. Nem mesmo foi Janete Clair, como muitos afirmam, que introduziu o mistério policial nas tramas. Em 1966, Glória Magadan criou o personagem "Rato", primeiro serial killer no gênero televisivo que matou metade do elenco para proteger o tal Sheik. No final da novela, revelou-se que o Rato era a princesa Eden de Bassora. Janete Clair só iria utilizar esse recurso em 1969 na telenovela Véu de Noiva e quase por acaso. O ator Geraldo Del Rey, que fazia o Luciano pediu para sair da trama. Clair, então, criou o assassinato misterioso. "Quem matou Luciano?" não fez tanto sucesso assim, mas marcou o gênero. A assassina foi a personagem de Ana Ariel.
Mesmo com esses dois mistérios, além de um utilizado por Dias Gomes também sem muita repercussão, o "Quem matou Salomão Hayalla?" foi o primeiro grande mistério nacional. O Brasil inteiro se perguntava o nome do assassino, vários bolões foram feitos, a imprensa explorou bastante o mistério e até mesmo o ator Edwin Luisi ficou na dúvida se seu personagem Felipe seria o assassino ou não. Naquela época, Janete Clair não tinha tanta preocupação com o mistério e quando convidou o ator para a telenovela já ofereceu o papel do assassino de Salomão Hayalla. Mas, as reviravoltas só serviram para surpreender a todos com a confirmação do nome do assassino.
A pergunta "Quem matou Salomão Hayalla?" só foi superada em 1988, com o famoso "Quem matou Odete Roitman?" na telenovela Vale Tudo, recentemente reprisada no Canal Viva. Todo o Brasil parou novamente em torno da pergunta e o Caldo Maggi fez um concurso nacional com um prêmio em dinheiro para quem acertasse o mistério. Dez anos depois, a indústria da televisão já estava mais organizada e o esquema para encobrir o nome do assassino teve que ser melhor organizado. Os autores chegaram a escrever cinco finais diferentes e a cena da revelação só foi gravada no dia em que o capítulo foi ao ar. No final, o Brasil se surpreendeu com a notícia de que Leila havia matado a empresária por engano. Queria matar Maria de Fátima que estava tendo um caso com seu marido, Marco Aurélio.
Os autores de Vale Tudo ainda iriam repetir a fórmula de mistério. Aguinaldo Silva, que assinou a co-autoria da trama, apesar de hoje abominar o recurso, utilizou na trama seguinte com o "Quem matou Arturzinho da Tapitanga?". Já Gilberto Braga, o autor principal, dono da sinopse, já havia utilizado a fórmula em Água Viva, com "Quem matou Miguel Fragonari?" e na minissérie Anos Dourados com "Quem matou Lutero?". Anos depois, essa pergunta se tornaria uma marca autoral, já que a partir da minissérie Labirinto, em 1998, todas as duas tramas teriam um "Quem matou?". E muitos já anunciaram e esperam a pergunta em sua atual telenovela: Insensato Coração. "Quem matou Tais Grinaldi?" em Paraíso Tropical. "Quem matou Lineu Vasconcellos?" em Celebridade. E finalmente, o que considero a melhor solução: "Quem matou o Barão Henrique Sobral?" em Força de Um Desejo.
Por que Força de um Desejo tem a melhor solução? Porque a resposta foi completamente surpreendente e coerente ao mesmo tempo. Bárbara Ventura era a última personagem em quem alguém iria apostar as fichas para o nome da assassina. Ela era o alívio cômico da trama. Todas as pistas levavam para a Fazenda Morro Alto e se fosse Higino Ventura o responsável seria muito óbvio. Ser sua esposa por si só não diz muito, mas quando foi explicado o início do assassinato em série, tudo fez um sentido imenso. Bárbara matou a baronesa Helena Sobral, paixão de adolescência de seu marido. O resto foi consequência para encobrir o primeiro crime.
Além disso, a solução da trama foi explicada com cenas da telenovela. Hoje, analisando-a com detalhes posso perceber que desde o início os indícios estavam lá. São muitos detalhes que parecem passar despercebidos como a tentativa de aproximação de Bárbara de pessoas que conhecessem a baronesa. A cumplicidade do capanga Vitório ao fazer com que o médico Xavier voltasse a ser o médico dos Ventura, a doação dos remédios da baronesa Helena à Xavier, após sua morte, fazendo com que o médico pudesse descobrir o primeiro assassinato de Bárbara e fosse morto por isso. A aparição de Bárbara no bar, na noite em que o padre foi assassinado. A escrava da fazenda dos Castro Rebelo e seu medo de Higino Ventura, a ligação das mortes pelo remédio. A visita do Barão ao amigo Castro Rebelo no dia de sua morte. A necessidade de falar com Alice. Enfim, tudo se encaixa perfeitamente. Para completar, a forma como tudo foi descoberto foi muito divertido, com uma falsa notícia de confissão de Higino Ventura, que fez Bárbara confessar o crime.
Outros autores também já utilizaram do recurso, como Lauro César Muniz e Sílvio de Abreu, este tendo até mesmo realizado uma telenovela totalmente voltada para um serial killer: A Próxima Vítima. A trama fez um enorme sucesso revelando o nome de Adalberto como o assassino na versão brasileira. Já em Portugal, o final exibido foi com Ulisses como responsável pelas mortes, esse final foi exibido também na versão do Vale a Pena Ver de Novo da Rede Globo. A última telenovela de Sílvio de Abreu também teve um assassinato. Primeiro ele fez uma tentativa de repetir o mistério de O Rebu com a pergunta "Quem morreu?", mas não funcionou direito, pois no capítulo vários personagens brigaram com o personagem Saulo, dando indícios que ele seria o assassinado.
O fato é que, bem feito ou não, com muita ou pouca repercussão, mistério policial e telenovela parece mesmo um bom casamento para a boa audiência. Resta saber como será a repercussão desse novo "Quem matou Salomão Hayalla?" e se isso vai fazer Gilberto Braga e Ricardo Linhares desistirem de perguntar ao país "Quem matou Léo?"
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domingo, 17 de julho de 2011
O Astro
Em 1978, Janete Clair parou o Brasil com a telenovela O Astro. A pergunta que todo mundo queria saber a resposta: Quem matou Salomão Ayala? Claro que a trama não se resumia a isso. Era, na verdade, protagonizada por Francisco Cuoco como Herculano, uma espécie de guru com poderes místicos. Agora, a trama de Janete Clair está de volta pelas mãos de Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro em um formato especial.
A nova novela da Rede Globo é uma homenagem aos 55 anos de telenovelas no país, sendo exibida de terça à sexta, às 11 horas da noite. O mesmo formato de grade ocupado desde 1981 pelas minisséries. Mas, não tem como negar que o formato narrativo seja de telenovela. Vários núcleos, tramas paralelas, dinâmica do capítulo, e claro, o anúncio óbvio da chamada da emissora: "Vem aí, a sua nova novela das onze". E ao contrário dos demais remakes de Janete Clair, essa primeira semana agradou ao público, sendo primeiro lugar no Ibope.
O ritmo do primeiro capítulo foi bom, os atores estão bem no papel, o texto é ótimo e foi muito bem adaptado para nossa época atual. Já no segundo capítulo, a qualidade começou a cair um pouco, o tom já excessivamente melodramático de Janete Clair parece que foi elevado pelos adaptadores. A cena em que Márcio enfrenta o pai não chegou aos pés da original, por exemplo. E nem falo da interpretação de Thiago Fragoso, que mesmo não sendo um ator como Tony Ramos, conseguiu defender bem sua opção a la São Francisco de Assis. Mas, a direção da cena, já descendo as escadas tirando a roupa, a música, o texto mais emotivo. Perdeu.
Ainda assim, a trama traz curiosidade. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a simbologia de chamarem Francisco Cuoco para interpretar o mestre de Herculano. O ator fez o protagonista de O Astro em 1978. Ele ensinar a Rodrigo Lombardi o caminho de seu sucesso não deixa de ser algo extremamente simbólico, como uma benção do elenco original para o novo. Dina Sfat, que interpretou Amanda na primeira versão, também está representada por sua filha Bel Kutner que faz parte da trama em um papel secundário, o de Sílvia. Se ela fizesse o papel da mãe seria uma bela homenagem, mas a atriz não tem tanta força, e Carolina Ferraz combina melhor com o papel. Fora isso, a caracterização da atriz está muito próxima de Dina Sfat. Cabelo, maquiagem, postura, tudo parece lembrá-la.
É importante também ressaltar a presença de Daniel Filho como Salomão Ayala já que ele foi o grande parceiro de Janete Clair, dirigindo a maioria de suas tramas, inclusive O Astro em 78. E Regina Duarte, como Clô Ayala, que interpretou algumas das heroínas mais famosas de Janete Clair como Simone de Selva de Pedra. Ou seja, o elenco foi escolhido com muito cuidado. Parece que tudo foi pensado nos mínimos detalhes para fazer eco à trama original. Resta saber se irá encantar o país da mesma forma.
A nova novela da Rede Globo é uma homenagem aos 55 anos de telenovelas no país, sendo exibida de terça à sexta, às 11 horas da noite. O mesmo formato de grade ocupado desde 1981 pelas minisséries. Mas, não tem como negar que o formato narrativo seja de telenovela. Vários núcleos, tramas paralelas, dinâmica do capítulo, e claro, o anúncio óbvio da chamada da emissora: "Vem aí, a sua nova novela das onze". E ao contrário dos demais remakes de Janete Clair, essa primeira semana agradou ao público, sendo primeiro lugar no Ibope.
O ritmo do primeiro capítulo foi bom, os atores estão bem no papel, o texto é ótimo e foi muito bem adaptado para nossa época atual. Já no segundo capítulo, a qualidade começou a cair um pouco, o tom já excessivamente melodramático de Janete Clair parece que foi elevado pelos adaptadores. A cena em que Márcio enfrenta o pai não chegou aos pés da original, por exemplo. E nem falo da interpretação de Thiago Fragoso, que mesmo não sendo um ator como Tony Ramos, conseguiu defender bem sua opção a la São Francisco de Assis. Mas, a direção da cena, já descendo as escadas tirando a roupa, a música, o texto mais emotivo. Perdeu.
Ainda assim, a trama traz curiosidade. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a simbologia de chamarem Francisco Cuoco para interpretar o mestre de Herculano. O ator fez o protagonista de O Astro em 1978. Ele ensinar a Rodrigo Lombardi o caminho de seu sucesso não deixa de ser algo extremamente simbólico, como uma benção do elenco original para o novo. Dina Sfat, que interpretou Amanda na primeira versão, também está representada por sua filha Bel Kutner que faz parte da trama em um papel secundário, o de Sílvia. Se ela fizesse o papel da mãe seria uma bela homenagem, mas a atriz não tem tanta força, e Carolina Ferraz combina melhor com o papel. Fora isso, a caracterização da atriz está muito próxima de Dina Sfat. Cabelo, maquiagem, postura, tudo parece lembrá-la.
É importante também ressaltar a presença de Daniel Filho como Salomão Ayala já que ele foi o grande parceiro de Janete Clair, dirigindo a maioria de suas tramas, inclusive O Astro em 78. E Regina Duarte, como Clô Ayala, que interpretou algumas das heroínas mais famosas de Janete Clair como Simone de Selva de Pedra. Ou seja, o elenco foi escolhido com muito cuidado. Parece que tudo foi pensado nos mínimos detalhes para fazer eco à trama original. Resta saber se irá encantar o país da mesma forma.
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sexta-feira, 15 de julho de 2011
Final de Vale Tudo
Ontem o Canal Viva exibiu o último capítulo da telenovela Vale Tudo. Impressionante como vinte e três anos depois, a trama continua atual: Vale a pena ser honesto no Brasil? Claro que as mudanças políticas, as últimas CPIs, etc nos dão esperança de que tem sim, muita gente honesta, mas ainda tem muito jogo sujo e muita gente molhando a mão de um guarda para se livrar de uma multa.
No último capítulo, tirando a expectativa do nome do assassino de Odete Roitman, que, claro, continuou sendo Leila por engano, o tema foi esse. De um lado, a fuga de Marco Aurélio e Leila no jatinho particular dando uma banana para o país. Até hoje um marco na teledramaturgia. Não era comum ver um vilão como o personagem de Reginaldo Faria se dar tão bem. Ainda mais com esse símbolo agressivo direcionado ao Brasil. Temos que lembrar que eram apenas quatro anos de volta da democraria, a questão cívica ainda era um tabu. O mais genial da montagem do capítulo é que logo após a cena de Marco Aurélio, vem uma cena onde Poliana come uma banana calmamente. A simbologia não poderia ser mais perfeita. Ele foge e a gente tem que engolir.
No outro ponto do capítulo, temos o drama de Ivan, preso e condenado por suborno. Raquel, a personagem de Regina Duarte, símbolo na honestidade na trama, questiona no fim se realmente vale a pena ao ver seu marido atrás das grades enquanto Marcos Aurélios fogem ilesos. A questão é: Ivan realmente errou, fez um suborno para beneficiar a empresa. Mas, Raquel não se conforma que ele tenha ido para cadeia por tão pouco, enquanto outros não. "Prenderam apenas meia dúzia de pobres, como posso acreditar em justiça nesse país?", ela pergunta. Ivan é enfático ao dizer que acredita que o Brasil tenha jeito e que ele seja apenas o primeiro caso.
Ainda nessa conversa, Ivan fala que o povo está aprendendo a votar, o que não deixa de ser um irônia sabendo o que vem depois. Era janeiro de 89, ano das primeiras eleições diretas desde o golpe de 64. Como todos sabem, aquele ano foi eleito Collor de Mello, que sofreu impeachment dois anos depois por corrupção. E hoje, está novamente no governo, como senador. Mas, há sempre a esperança, afinal, estamos apresendo ainda a viver em uma democracia. Tendo a ser mais otimista como Ivan do que pessimista como Raquel que viu os pobres "pagarem o pato". Mesmo com a fuga de Marco Aurélio e Leila, além do final de César, que também conseguiu um belo golpe ao lado de Maria de Fátima, o final de Vale Tudo é otimista.
Vale Tudo construíu sua trama em torno de duas trajetórias: Mãe e Filha, uma honesta outra corrupta em uma espécie de competição velada para provar qual estava certa. No final, Raquel vence na vida pelo seu próprio trabalho, depois de vender sanduiche na praia, vira uma empresária do ramo alimentício reconhecida mundialmente. O caso é que Maria de Fátima também venceu. Depois de vários golpes fracassados, ela reencontra seu parceiro César que lhe dá uma oportunidade ímpar: um casamento de fachada com um príncipe milionário que lhe dará em contrato um milhão por cada ano casado. A única diferença do pensamento original de Fátima é que ela conseguiu vencer sem enganar o noivo, não foi um golpe, mas um acordo para enganar os eleitores do marido e calar a imprensa que insinuava que ele poderia ser homossexual. Os valores continuam invertidos, mas tem uma ponta de mudança nesse caso.
Mas, a questão principal é que o último capítulo tem mais coisas boas que ruins. As pessoas se dão bem, há casamentos, Heleninha para de beber, faz uma exposição de sucesso, Afonso descobre que é pai de Marcinha, reconquista Solange, Aldeide e André se acertam. Enfim, o clima é festivo. Ivan sai da cadeia e lança um livro "Vale Tudo?" falando exatamente da questão da honestidade no país e essa é a mensagem dos autores. Precisamos questionar nossa própria ética. Nossos conceitos. Não é porque a gente acha que todo mundo é corrupto que vamos ser também. E não é porque aconteceu à alguém que a gente ama que vamos relevar, como fez Raquel. No início da novela ela era quem mais defendia essa bandeira, porque ser condescedente agora no ato de Ivan? São nas pequenas coisas que surgem as grandes.
No último capítulo, tirando a expectativa do nome do assassino de Odete Roitman, que, claro, continuou sendo Leila por engano, o tema foi esse. De um lado, a fuga de Marco Aurélio e Leila no jatinho particular dando uma banana para o país. Até hoje um marco na teledramaturgia. Não era comum ver um vilão como o personagem de Reginaldo Faria se dar tão bem. Ainda mais com esse símbolo agressivo direcionado ao Brasil. Temos que lembrar que eram apenas quatro anos de volta da democraria, a questão cívica ainda era um tabu. O mais genial da montagem do capítulo é que logo após a cena de Marco Aurélio, vem uma cena onde Poliana come uma banana calmamente. A simbologia não poderia ser mais perfeita. Ele foge e a gente tem que engolir.
No outro ponto do capítulo, temos o drama de Ivan, preso e condenado por suborno. Raquel, a personagem de Regina Duarte, símbolo na honestidade na trama, questiona no fim se realmente vale a pena ao ver seu marido atrás das grades enquanto Marcos Aurélios fogem ilesos. A questão é: Ivan realmente errou, fez um suborno para beneficiar a empresa. Mas, Raquel não se conforma que ele tenha ido para cadeia por tão pouco, enquanto outros não. "Prenderam apenas meia dúzia de pobres, como posso acreditar em justiça nesse país?", ela pergunta. Ivan é enfático ao dizer que acredita que o Brasil tenha jeito e que ele seja apenas o primeiro caso.
Ainda nessa conversa, Ivan fala que o povo está aprendendo a votar, o que não deixa de ser um irônia sabendo o que vem depois. Era janeiro de 89, ano das primeiras eleições diretas desde o golpe de 64. Como todos sabem, aquele ano foi eleito Collor de Mello, que sofreu impeachment dois anos depois por corrupção. E hoje, está novamente no governo, como senador. Mas, há sempre a esperança, afinal, estamos apresendo ainda a viver em uma democracia. Tendo a ser mais otimista como Ivan do que pessimista como Raquel que viu os pobres "pagarem o pato". Mesmo com a fuga de Marco Aurélio e Leila, além do final de César, que também conseguiu um belo golpe ao lado de Maria de Fátima, o final de Vale Tudo é otimista.
Vale Tudo construíu sua trama em torno de duas trajetórias: Mãe e Filha, uma honesta outra corrupta em uma espécie de competição velada para provar qual estava certa. No final, Raquel vence na vida pelo seu próprio trabalho, depois de vender sanduiche na praia, vira uma empresária do ramo alimentício reconhecida mundialmente. O caso é que Maria de Fátima também venceu. Depois de vários golpes fracassados, ela reencontra seu parceiro César que lhe dá uma oportunidade ímpar: um casamento de fachada com um príncipe milionário que lhe dará em contrato um milhão por cada ano casado. A única diferença do pensamento original de Fátima é que ela conseguiu vencer sem enganar o noivo, não foi um golpe, mas um acordo para enganar os eleitores do marido e calar a imprensa que insinuava que ele poderia ser homossexual. Os valores continuam invertidos, mas tem uma ponta de mudança nesse caso.
Mas, a questão principal é que o último capítulo tem mais coisas boas que ruins. As pessoas se dão bem, há casamentos, Heleninha para de beber, faz uma exposição de sucesso, Afonso descobre que é pai de Marcinha, reconquista Solange, Aldeide e André se acertam. Enfim, o clima é festivo. Ivan sai da cadeia e lança um livro "Vale Tudo?" falando exatamente da questão da honestidade no país e essa é a mensagem dos autores. Precisamos questionar nossa própria ética. Nossos conceitos. Não é porque a gente acha que todo mundo é corrupto que vamos ser também. E não é porque aconteceu à alguém que a gente ama que vamos relevar, como fez Raquel. No início da novela ela era quem mais defendia essa bandeira, porque ser condescedente agora no ato de Ivan? São nas pequenas coisas que surgem as grandes.
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