sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quebra de tabu na teledramaturgia brasileira

Entre quarta e quinta-feira um dos assuntos preferidos da rede social Twitter foi a telenovela Amor e Revolução. O termo #amorerevolucao ficou no entre os mais citados no microblog (TTs) nos dois dias. O motivo não foi o texto de Tiago Santiago, muito menos os temas principais explorados na novela, ou mesmo as cenas de tortura que estão incomodando muitos militares. É que finalmente, a televisão aberta está presenciando mais uma quebra de tabu: o beijo gay.

Durante anos a Rede Globo ensaiou colocar no ar uma cena dessas. A telenovela América chegou a gravar e anunciar em seu último capítulo. Mas, horas antes da exibição do mesmo chegou a ordem para que não fosse ao ar. A Rede Record também ensaiou algumas promessas. Mas, era demais para televisão do Bispo. Coube então, ao conservador SBT, do sempre esperto Sílvio Santos, aproveitar ao máximo esse momento. O beijo que foi prometido para o capítulo da quarta-feira, acabou acontecendo no meio do capítulo da quinta. A estratégia foi para alongar ao máximo a expectativa e parece ter funcionado. Pelo menos, ganhou o título de primeiro. Enquanto em outras televisões, em séries diversas, esse assunto já não causa tanta polêmica, aqui continua um grande tabu. E está mais do que na hora de deixar de ser. Principalmente quando se discute direitos homoafetivos no congresso.

O problema que vejo nesse beijo, está na narrativa. Vejam a cena:

Nem vou discutir a direção, a trilha sonora ou detalhes como o batom que continua intacto de ambas ou o pé levantado de Luciana Vendramini que dá um tom completamente armado da cena. Mas, se pudessem ver aqui o diálogo de antes e depois das duas personagens, entenderiam o que estou falando. A cena ficou uma grande encenação em prol do beijo gay. Esqueceram a narrativa. A personagem de Luciana Vendramini, Marcela, é homossexual e apaixonada pela personagem de Giselle Tigre, Mariana. A moça, porém, não é homossexual, sendo apaixonada pelo colega de trabalho que é casado.

A conversa que parecia ter um tom de jogral começa com Marcela se declarando. Mariana fica confusão, diz que não sabe o que pensar. Os diálogos soam falsos, ensaiados, não há a emoção natural em uma cena tensa como essa. Marcela, então, pede um beijo como teste, para ver se Mariana gosta. As duas se beijam por um tempo, até que Mariana interrompe dizendo que não é bem isso. Sem constrangimentos, emoções a flor da pele ou qualquer espécie de naturalidade, as duas começam a discursar com as conquistas femininas na última década. Lembrem que estamos na década de 60, auge dessa discussão. Mas, daí compreender essa conversa como normal...


Para mim, o que ficou foi apenas a preocupação de quebrar o tabu. Sem maiores preocupações com a trama em si. "O beijo tinha que sair, depois a gente pensa nos personagens." Agora, Tiago Santiago já anunciou que o romance irá adiante se o público quiser. Ele já tinha feito uma enquete parecida em Prova de Amor, da Record. Acho o processo interessante, não por acaso, o autor trabalhou anos no Você Decide da Rede Globo. A única coisa incômoda é que em busca da audiência a todo custo, o texto fique sempre em último lugar. De qualquer forma, foram todos corajosos. Resta a dúvida se abrirá portas para novas investidas do gênero.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Adeus robô de Morde e Assopra

A audiência de Morde e Assopra caia a cada capítulo. Robôs e Dinossauros não pareciam mesmo temas que combinassem com teledramaturgia. Aos poucos, os robôs de Ícaro, personagem de Mateus Solano foram dando adeus. Hoje, Flávia Alessandra deixou de ser uma andróide e como era previsto, não saiu de cena. Ao mesmo tempo em que a robô era atingida por um raio, a verdadeira esposa de Ícaro batia a sua porta com uma história difícil de ser engolida e um garoto a tira colo.

Naomi apareceu atropelando Nivaldo e fugindo do local do crime, mas antes ligou para delegacia para avisar sobre o acidente. Maria João, no entanto, já tinha avisado a todos que uma mulher de capa de chuva havia sido a responsável pelo acidente. Na casa de Ícaro tudo ainda está muito confuso. Ele não acredita que sua esposa estivesse esse tempo todo em coma e depois procurando por ele. Naomi tentou de todas as formas, mas uma dúvida pairava no ar. E ela ainda nem sabe que existia uma andróide com a sua aparência. Fico imaginando quando o personagem de Caio Blat ficar frente a frente com ela.

Mas, vamos ao tema do post. Será que o robô era mesmo o grande problema de Morde e Assopra? Ou a história que foi construída para ele é que não funcionou tão bem? Afinal, já tivemos seres tão estranhos em tantas novelas em sua história como lobisomens, vampiros, demônios, anjos, E.T.s e viajantes no tempo. Não assiti toda a novela para analisar com maiores detalhes, mas do pouco que vi, a Naomi verdadeira deu outra vida a novela. A cena de reencontro do casal foi interessante, densa, dava vontade de acompanhar. A repercussão na internet foi grande, com vários comentários no Twitter. Todos pareciam mesmo aliviados com o fim da robô da discórdia. Como se sua presença ou ausência fosse sinônimo de boa ou má dramaturgia. Isso me incomoda um pouco, pois acaba criando tabus que não ajudam em nada a criatividade das telenovelas.

Aliás, fico imaginando o que Walcyr Carrasco teve que fazer com sua sinopse já que a robô Naomi era a base de sua história. Tanto que ela está na abertura junto com o outro tema polêmico: os dinossauros. A idéia de triângulo amoroso com a robô acabou naufragando, mas o jardineiro Leandro, sem dúvidas, vai começar a interagir junto a verdadeira Naomi. Resta saber como será a relação dos dois. Mas, ao mesmo tempo que resolveu o problema do robô de maneira tão radical, será que mexerá também nos dinossauros? Porque se isso acontecer, vai ser uma mudança mais radical do que o que Janete Clair fez com Anastácia, a Mulher sem Destino, que um vulcão destruiu quase todos os personagens, recomeçando a novela quase do zero.


Novela é mesmo uma obra aberta, que a cada dia precisa se reinventar para agradar ao público. A televisão está perdendo sua audiência a cada dia e seu carro chefe sofre muito com a cobrança. Por isso, tanta mudança. A situação de Morde e Assopra estava tão complicada que nem encurtar a trama iria resolver. Só mesmo mexendo e muito no texto. De qualquer forma, em parte, outra novela começou hoje. Será que vão mudar a abertura também?