sábado, 31 de janeiro de 2009

Prova de quê?

Mais um ponto para Thiago Santiago, que dificilmente perderá o prestígio que tem com a alta cúpula da Record. A reprise de Prova de Amor conseguiu bater recorde de audiência deixando a Rede como segunda colocada absoluta no horário (que agora parece firme as 16hs). É impressionante a capacidade de agradar ao seu público, vide os fãs de Os Mutantes. Após anos como colaborador na Rede Globo, teve sua primeira oportunidade como um dos autores da versão da Record para Escrava Isaura, que obteve grande sucesso no Ibope. Com sua primeira novela solo, Prova de Amor, bateu todos os recordes, não apenas se firmando como autor da casa, como sendo chamado para ser o conselheiro do núcleo de teledramaturgia, tendo poderes inclusive de barrar uma sinopse de Lauro César Muniz que substituiria a trama de Caminhos do Coração. Em seu blog ele comemora cada ponto no Ibope de Os Mutantes demonstrando uma obsessão imensa nesse quesito.

Eu confesso que não entendo. Não a obsessão pelo Ibope, já que é disso que vive a televisão, mas o sucesso tão grande de suas tramas. A Record apresentou novelas muito melhores que não tiveram a mesma felicidade. Essas Mulheres, uma obra tão mais bem acabada chegou a ter sua reprise cortada após duas semanas, porque não estava dando o Ibope desejado. Não teve a mesma chance de Prova de Amor que passeou por vários horários até encontrar o que melhor audiência tinha. Cidadão Brasileiro, outra novela muito bem escrita ficou no esquecimento, já que o autor da mesma não teve a chance de defender sua sinopse barrada por Santiago.

Sem querer parecer preconceituosa, não entendo como Os Mutantes que ainda acaba em março terá uma nova continuação. A trama se esgotou em Caminhos do Coração, a cada capítulo apenas novos monstros, mutantes ou extraterrestres são criados, gerando uma confusão e um excesso de clichês e referências. E o pior, faz sucesso. Mas, o que mais me incomoda no texto de Santiago é o diálogo. As falas soam artificiais demais, com uma repetição somente vista em animes infantis. Além disso, há uma clara intenção de evangelização. Isso me dá medo, pois, uma empresa que tem por trás a Universal do Reino de Deus mostrar o tempo todo cenas onde os personagens param o que estão fazendo para orar e agradecer a Deus por conquistar isso ou aquilo é meio constrangedor. Nada contra Deus, nem contra oração, muito pelo contrário, mas a forma como o assunto é introduzido no texto é afrontoso, sem sutileza não fica natural. A sensação é mesmo a de evangelização.

De qualquer maneira, ele conseguiu o sucesso e isso temos que admirar. Espero que outros autores talentosos tenha a mesma chance de mostrar seu valor.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Conta, mas não mostra

Uma polêmica foi criada nos bastidores da Rede Globo após o final de A Favorita: o que deve ser contado a imprensa? O autor João Emanuel Carneiro teria ficado irritado com a divulgação do final da novela e pedido uma CPI para descobrir quem havia vazado a informação. “Nunca mais na minha vida vou dar nenhuma notícia para o jornal O DIA e vou tratar também para que a empresa (TV Globo) não mais se relacione com esse jornal por ter publicado isso”. Teria dito o autor.

A divulgação de spoilers é sempre uma polêmica, mas algo totalmente natural em televisão que todo domingo divulga o resumo dos capítulos. Ao contrário do público de cinema, o telespectador gosta de saber com antecedência o que irá acontecer no capítulo do dia, é uma forma de se preparar, saber se aquele será mais importante e se precisa ter mais atenção. Isso não estraga a surpresa, pelo contrário, aguça a curiosidade de como será. Saber que vai acontecer é uma coisa, ver acontecendo é outra totalmente diferente. Por isso, Manoel Carlos não se importa nem um pouco com isso, sempre divulga o que vai acontecer em suas novelas. Já Aguinaldo Silva chegou ao extremo de divulgar os capítulos de Duas Caras em seu blog e isso até aumentou o Ibope.

Claro que o último capítulo é sempre mais polêmico, principalmente quando se tem um mistério do tipo: "quem matou?" Nesses casos, vários finais são escritos e gravados para que a surpresa chegue ao público de forma inédita. Nem assim, as especulações param. E no caso de novelas, elas estão cada vez maiores. Existem revistas no mercado que vivem exclusivamente disso: Conta Mais, Minha novela, Só novelas... É impressionante a quantidade de matérias falsas sobre as tramas. Fazer um exercício de comparar o que está nas capas dessas revistas com o que acontece nas telas traz sempre um espanto. Eles inventam mesmo e isso vende mais revista.

Agora, o caso de Carneiro e A Favorita é mais delicado, já que o Jornal O Dia publicou o final da novela (Lara atirava em Flora e esta acabava presa dizendo ser Donatela) através de uma informação que vazou da Globo. Isso o irritou. Tem o direito, apesar de que essa informação não mudou em nada o acompanhamento da trama. Nem era um mistério. Saber como Flora iria terminar era apenas mais uma constatação de que ela seria punida, nada de tão espantoso que merecesse sigilo. Muito mais interessante foi descobrir que Flora era a assassina no capítulo 56 da novela, e nisso ele conseguiu manter sigilo, apesar de divulgar amplamente que aquele capítulo traria a revelação de quem matou Marcelo e isso faria com que a novela desse uma virada.

O fato é que novela é pra ser entretenimento diário, leve, e para isso, as pessoas gostam de acompanhar o que vai acontecer hoje e sempre. Nem Carneiro, nem ninguém irá mudar isso. E viva aos resumos de novelas.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Balanço de Caminho das Índias

Após uma semana é possível ter uma idéia melhor do que Glória Perez nos traz em sua quinta novela no horário nobre. É um folhetim, como nos velhos tempos, sem muitas ousadias nem intenção de quebrar regras. Pode-se dizer até que seja mais do mesmo e tenha referências a outras novelas da autora. Mas, qual novela não tem? Mesmo em A Favorita, tão falada como uma quebra de padrões, podemos encontrar sinais de comparação com Da Cor do Pecado e Cobras&Lagartos, duas outras novelas de João Emanuel Carneiro. Recentemente, Manoel Carlos confessou que faz a mesma novela sempre, com outra roupagem. Esta é a fórmula das novelas, variação do mesmo tema, sem sair do tom. Então, não é pecado que Glória Perez mais uma vez nos venha falar de um amor impossível em um país distante, cheio de danças e trapalhadas. Nem que tenha um bairro popular onde o bar mais conhecido venda pastéis famosos. E muito menos que um merchandising social invada nossa tela com campanhas imensas. O problema é como contar esta história novamente. E se a gente para um pouco em frente a televisão, percebe que ela nos chama a ficar grudados com a trama.

O primeiro capítulo foi longo e teve um excesso de informações didáticas, mas durante a semana isso foi sendo diluído e tornando a narrativa mais leve e gostosa de ser acompanhada. Chamo a atenção para a estratégia de apresentação do casal principal. Glória, normalmente apresentava ambos em separado e o encontro era o gancho final do capítulo. Foi assim em O Clone, América e Explode Coração. Desta vez, Maya e Bahuan se encontraram várias vezes no primeiro capítulo, sempre de forma "mágica" já que, em uma cidade tão grande, os dois estarem andando nas ruas e se esbarrarem não é algo comum. E acredito que essa seja uma tentativa de fazer o casal ser acolhido pelo público, único ponto que achei forçado. A escolha dos atores não ajudou. Márcio Garcia é ótimo apresentador, mas como ator está enferrujado. Após a boa atuação como o michê de Celebridade, demonstrou uma interpretação pequena com ares canastrões. Já Juliana Paes sofre com a publicidade em cima de sua imagem. Uma atriz tão explorada como símbolo sexual fica falso no papel de mocinha indefesa.

Mas a novela, ao contrário do que parece, não se sustenta no casal principal. As duas famílias indianas: a de Tony Ramos e a de Osmar Prado, estão muito bem representadas e possuem momentos muito engraçados. A única coisa over é as inúmeras danças no meio da sala, isso pode ser considerada uma referência aos famosos filmes indianos (Bollywood), onde tudo é motivo pra dança, às vezes até sem motivo. Porém, como O Clone também tinha muita dança no meio da sala e América tinha aquelas danças countrys no meio da cidade, fica a perseguição contra a autora.

A trama que mais me chama a atenção e estou ansiosa pelo desenvolvimento é a da esquizofrenia. O núcleo da clínica psiquiátrica tem aparecido pouco, mas já demonstra grande potencial. Stênio Garcia está ótimo como o médico com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), tendo Eva Todor como sua fiel escudeira. A trama promete ficar ainda melhor quando cruzar com a da família de Bruno Gagliasso.

No geral, Caminho das Índias agradou. Não se pode chamar ainda de uma excelente novela, nem acredito que vá superar O Clone mesmo entre os fãs da autora. Mesmo assim, tem tudo para conquistar o público e subir no Ibope. Resta aguardar.

sábado, 24 de janeiro de 2009

A vilã tem sempre mais charme

Façam um esforço de memória, quais os personagens mais marcantes das novelas que você se lembra? Com certeza em sua lista estará personagens como Odete Roitman, Laura Prudente da Costa, Branca Letícia de Barros Motta, Bia Falcão ou Nazaré. Não importa qual seja a trama, nem quem seja o autor, há sempre uma vilã ou vilão inesquecíveis que conquista o público, alguns a ponto de ter um final feliz como Bia Falcão. Então, quem acompanhou a Favorita sabe que Donatela pode até ser uma mocinha atípica, engraçada, desajeitada, corajosa, mas quem roubou a cena foi mesmo Flora, a vilã inescrupulosa.

Esta certo que ela começou a novela com ares de boa moça, sofrida, muitos a compararam a Júlia de Dancin´Days e a interpretação de Patrícia Pilar, sempre destinada a mocinhas, confundiu e enganou muita gente. Só que depois do capítulo 56, exibido no dia 05 de agosto de 2008, Flora foi se mostrando a pior vilã de todos os tempos, incapaz de amar sequer a própria filha. Matando a sangue frio quem se colocasse em seu caminho, foi escalando até a loucura total no último capítulo onde no auge de sua obsessão pela personagem de Cláudia Raia se apresenta como Donatela a uma colega de prisão.

Capítulo da Reviravolta:


Não há uma explicação exata para os vilões serem sempre mais marcantes, apenas algumas teorias. Normalmente o mocinho e a mocinha são muito lineares, por vezes chatos e apresentam pouco mais do mesmo, em todas as novelas. Os vilões rompem com a norma estabelecida, ousam, com isso possuem cenas mais marcantes, são mais inteligentes e estão sempre agindo de diversas maneiras. Em A Favorita não foi diferente. Foram diversas cenas marcantes, sempre com uma interpretação forte e diálogos inteligentes. Flora será lembrada ainda por muito tempo, como uma das maiores vilãs de todos os tempos.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Eterno casal

Em 1963, a TV Excelsior exibia a primeira novela diária da história da teledramaturgia brasileira: 2-5499 Ocupado. A história de uma presidiária que trabalhava como telefonista do presídio e conhece seu par romântico pelo telefone quando ele se apaixona por sua voz, sem saber mais nada sobre ela. Quem interpretava o casal? Tarcísio Meira e Glória Menezes, casados na vida real, a dupla fez diversas novelas como par romântico e se tornou o maior ícone da televisão brasileira. Tiveram diversos trabalhos separados, também, claro. Porém, sempre que estavam em cena juntos, o público se acostumou a vê-los como um casal. Foi assim, que após 197 capítulos separados, João Emanuel Carneiro não resistiu e juntou Dona Irene e Copola no final de A Favorita. Está certo que Copola estava fadado a amar Irene durante toda a vida, mas começou a novela casado com outra mulher. Irene, também casada, tentou resistir as investidas do antigo namorado, mesmo depois de ficar viúva. Porém, no final, não houve como resistir a tantos apelos e a história de Tarcísio e Glória falou mais alto, mantendo a tradição.



O único autor que teve a coragem de separá-los, mesmo os tendo no mesmo elenco foi Sílvio de Abreu em Guerra dos Sexos. Roberta e Felipe começaram a novela brigando feito cães e gatos, o que dava uma leve suposição de que era amor reprimido. Chegaram a ter um romance no meio da novela, mas como a trama das 19hs de 1983 tinha sido feita para quebrar tabus, Felipe terminou a novela com Carolina (Lucélia Santos) e Roberta nos braços do jovem Nando (Mário Gomes). O que para muitos foi quase uma heresia.

A verdade é que Tarcísio e Glória são patrimônio nacional e é bom para o público ver a comprovação de que um amor pode resistir ao tempo e se tornar eterno, tal qual os melhores folhetins.



Novelas em que atuaram juntos:
2-5499 Ocupado - 1963
A Deusa Vencida - 1965
O Grande Segredo - 1967
Sangue e Areia - 1967
Rosa Rebelde - 1969
Irmãos Coragem - 1970
O homem que deve morrer - 1971
Cavalo de Aço - 1973
O semideus - 1973
Guerra dos Sexos - 1983
Torre de Babel - 1998
Páginas da Vida - 2006
A Favorita - 2008

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A vez de Glória Perez

Seguindo o rodízio de autores do horário nobre, chegou a vez de Glória Perez. Única autora que resiste a nova estrutura de escrever novelas (com time de colaborares), mantendo apenas para si a responsabilidade de mais de duzentos capítulos, sempre busca assuntos incomuns, com muito romance proibido e merchandising social. Foi assim que deu vida a dor das mulheres da candelária em Explode Coração, falou de drogas em O Clone ou Cleptomania em América. Com Caminho das Índias, Glória Perez trará todo o universo de uma cultura bastante específica, onde a religião é ligada à organização da sociedade e possui um fascínio por sua sensualidade. Além disso, irá tocar em um assunto delicado e bastante controvérsio: esquizofrenia e a lei anti-manicomial, para isso fez bastante pesquisa de campo.

Glória Perez começou sua carreira como colaboradora de Janete Clair (a maga das oito) e mantem o estilo do folhetim clássico, com muita fantasia, mas sempre buscando falar de inovações tecnológicas e científicas, a exemplo da abordagem sobre clones humanos ou barriga de aluguel. Talvez, por isso, tenha uma legião de fãs tão afoitos a ponto de torná-la recorde de audiência no horário nobre. E Caminho das Índias chega com muita expectativa. Resta acompanhar para ver onde a trama irá nos levar.

Chamada da novela


Uma inovação que vem acontecendo nos sites das novelas da Globo é o diário de bordo, com detalhes de produção, gravação e furos de reportagens. Caminho das Índias já está com um material bem recheado para aqueles que querem conhecer mais da novela e do país que está sendo retratado na trama. Além disso, o blog da autora traz inúmeras referências, além de entrevistas feitas por e-mail que ela coloca na íntegra após a publicação da mesma. Algo interessante, já que os jornais e revistas normalmente editam as matérias.

Trabalhos:

Novela - colaboradora
Eu Prometo (1983) - última novela de Janete Clair, que faleceu antes de terminá-la, Glória finalizou com a ajuda de Dias Gomes, viúvo da autora.

Novelas - Autora:
Partido Alto (1984)
Carmem (1987)
Barriga de Aluguel (1990)
De Corpo e Alma (1992)
Explode Coração (1995)
Pecado Capital (1998) - remake
O Clone (2001)
América (2005)
Caminho das Índias (2009)

Minisséries
Desejo (1990)
Hilda Furacão (1998)
Amazônia (2007)

Séries:
A Diarista (2003) - Autora - episódio piloto
Mulher (1998) - co-autora

sábado, 17 de janeiro de 2009

De rejeitada à favorita



A novela A Favorita começou com o pior Ibope da história das novelas da Rede Globo, preocupando a cúpula que investiu suas fichas no estreante do horário: João Emanuel Carneiro. Roteirista do aclamado filme Central do Brasil, Carneiro conseguiu prestígio na Rede Globo com dois sucessos no horário das sete: Da Cor do Pecado e Cobras&Lagartos. Tudo indicava que sua primeira novela no horário nobre seria um sucesso, porém, a Globo não contava com uma pequena jogada estratégica da concorrente. A Rede Record exibiu no dia da estréia de A Favorita o último capítulo de Caminhos do Coração, sucesso inexplicável de Thiago Santiago. Como se isso não bastasse, a novela não teve exatamente um final. Inovando no formato, o autor criou uma continuação de sua trama, com o nome Os Mutantes, e a novela estreou no dia seguinte, sendo uma concorrente forte para a obra de João Emanuel Carneiro.

Passado o susto, Carneiro conseguiu sua reviravolta com o trunfo que trazia na manga. A história de Flora e Donatela não era mais um folhetim comum de vilã e mocinha clássicas. No capítulo 56, o público assistiu assustado a revelação de que estava sendo enganado pela excelente interpretação de boa moça de Patrícia Pilar. Alguns se revoltaram e sentiram-se enganados, mas a grande maioria do público gostou da reviravolta e a novela não apenas começou a crescer em audiência, como caiu na boca do povo, chegando aos dois últimos meses de exibição com picos de audiência e tornando Flora a vilã mais marcante da história da teledramaturgia.

Sem um mistério, já que o clímax da história foi atingido no capítulo da quarta-feira (14/04/09), o último capítulo não chegou a decepcionar, porém foi bem aquém do esperado. Na quarta, Donatela consegue realizar seu plano para fazer a vilã confessar todos os crimes. Aquele foi o auge, nada mais era esperado. Nem mesmo a tentativa de suspense com Flora disfarçada no casamento conseguiu manter a adrenalina dos capítulos anteriores.

Flora confessa seus crimes:


Mesmo assim, a novela cumpriu o seu papel e manteve a hegemonia da Globo, além de preparar o terreno para Caminho das Índias, trama de Glória Perez que vem com um déjà vu de seu maior sucesso no horário: O Clone. Ponto para o autor que se consagrou e para as atrizes que mostraram uma faceta nova. Tanto Patrícia Pilar, quanto Cláudia Raia se superaram ao transformar as ambíguas personagens iniciais em vilã e mocinha não convencionais, mas com objetivos claros que cativaram o público e marcaram o seu nome na história da teledramaturgia.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quando fala ao coração

Não se pode deixar de dizer que Jayme Monjardim seja corajoso. Dirigir uma minissérie que conta a vida de sua própria mãe e sendo essa mãe uma cantora polêmica, cheia de escândalos em sua vida pessoal e com uma relação tão ausente com o filho não é para qualquer um. Quem viu o capítulo final pode ter uma noção da emoção que este sentiu ao dirigir o próprio filho interpretando a si mesmo em uma discussão forte com a mãe, sua posterior reconciliação e logo depois gravar o acidente que tirou a vida de sua genitora. Não tem como ser impessoal e a minissérie, apesar de bem acabada e de grande valor, foi feita para resgatar Maysa.

O texto, as cenas escolhidas, a forma como a história foi conduzida, tudo tende a uma manipulação para que o público se encante e tenha a sensação de que aquela mulher foi uma estrela incompreendida e que merecia mais destaque na mídia, como grandes mitos da música brasileira. Maysa acabou a vida cantando em uma churrascaria, esquecida pelo público. E a sensação que fica ao ver seu sucesso no Brasil e no mundo é: como ela conseguiu isso? Essa passagem, a minissérie não mostra. Tudo que sabemos é que ela foi controversa, "bebia, falava e amava demais" e lutou para fazer apenas aquilo que tinha vontade. Para tanto, foi capaz de abandonar o filho em um internato por dez anos, acabar um casamento sem nunca deixar de amar o marido e se envolver com vários homens dos mais diversos estilos. Cantou a Bossa e a Fossa sem nunca deixar de ter um ar triste.



A minissérie cumpriu um papel ao contar em nove capítulos a história dessa mulher extrema, mas está longe de ser uma obra-prima da teledramaturgia. O texto foi fraco, Manoel Carlos tão conhecido por suas Helenas no Leblon não conseguiu repetir o feito que teve em Presença de Anita, onde contou uma história forte e concisa. Os diálogos soavam falso em muitos momentos e o vai e vem na história tornava a trajetória confusa e muitas vezes ficava a sensação de querer justificar demais as atitudes da cantora. A fotografia, no entanto, estava impecável. Affonso Beato trouxe um olhar incomum na televisão brasileira e deu um diferencial belo a minissérie que por si só já vale. Além disso, os atores eram todos desconhecidos do grande público, vindos do teatro, e deram um tom mais real. Larissa Maciel cumpriu bem o seu papel, encarnando Maysa com maestria. Só ficou aquém nos momentos em que cantava, insistindo em um ar doce e esboçando um sorriso que a verdadeira nunca fez. Maysa cantava com uma expressão de dor que assustava, talvez Larissa tenha querido amenizar um pouco esse sofrimento, mas acabou ficando falso.

Quanto a direção, Jayme Monjardim cumpriu o seu papel. Há muitos close, sim, mas isso faz parte da linguagem da televisão. Não chegam a incomodar. O ritmo lento e contemplativo que lhe é característico não chegou a tornar a minissérie maçante e não tivemos aqueles céus avermelhados que o diretor tanto adora. Mesmo envolvido emocionalmente, Monjardim conseguiu dirigir a obra com sensibilidade e beleza. Fez de Maysa uma boa minissérie, com grande audiência e que cumpriu o papel de resgatar a história dessa grande cantora, que ainda hoje tem um público fiel.

Então, um pouco da verdadeira Maysa

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Vinte anos depois

Em 1990, a Rede Manchete revolucionou a teledramaturgia brasileira ao colocar no ar a novela Pantanal. Benedito Ruy Barbosa e Jayme Monjardim criaram uma linguagem diferente, com cenas contemplativas, um ritmo mais lento e uma história sobre a saga de uma família: os Leôncio, encabeçada por José Leôncio interpretado pelo iniciante Paulo Gorgulho e o veterano Cláudio Marzo em suas duas fases. Cansados das tramas essencialmente urbanas da Rede Globo, a novela agradou em cheio e a audiência foi recorde. Tanto que dois anos depois, Benedito Ruy Barbosa estreava Renascer no horário nobre da Vênus Platinada.





Quase vinte anos depois, Sílvio Santos compra as fitas da massa falida da Manchete, coloca no ar a novela e Pantanal volta a ser sucesso. O SBT consegue novamente a vice-liderança que havia sido perdida para a boa estratégia e o núcleo teledramaturgico da Rede Record, inúmeras comunidades são criadas no orkut para comentar a trama e muitos atores que estavam esquecidos voltam a dar entrevistas e participar de programas como Luciene Adami, a Guta da novela.

A novela impressiona por ter uma trama tão simples, que conta o dia a dia de uma família, sem grandes viradas mirabolantes e vilões macabros. Tenório, o vilão da novela, não chega a ser um psicopata, é um homem ganancioso e sem escrúpulos que arma pequenos golpes. Sua maior maldade é com o peão Alcides, que havia roubado sua esposa e sua atitude parecida com de muitos homens ignorantes. Ou seja, tudo é muito parecido com a vida real. A fantasia fica por conta de lendas como velho do rio que vira sucuri, mulher que vira onça ou homem com pacto com o diabo. Além de causos e cantos sertanejos nas tradicionais rodas de viola na fazenda.

A reprise de Pantanal acabou em uma terça-feira 13, incomum para qualquer canal, e deixou saudades. Com este clima, a novela se tornou um marco e sua reprise vitoriosa só aumenta o coro dos noveleiros de plantão de que: não se fazem mais novelas como antigamente.