sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quando fala ao coração

Não se pode deixar de dizer que Jayme Monjardim seja corajoso. Dirigir uma minissérie que conta a vida de sua própria mãe e sendo essa mãe uma cantora polêmica, cheia de escândalos em sua vida pessoal e com uma relação tão ausente com o filho não é para qualquer um. Quem viu o capítulo final pode ter uma noção da emoção que este sentiu ao dirigir o próprio filho interpretando a si mesmo em uma discussão forte com a mãe, sua posterior reconciliação e logo depois gravar o acidente que tirou a vida de sua genitora. Não tem como ser impessoal e a minissérie, apesar de bem acabada e de grande valor, foi feita para resgatar Maysa.

O texto, as cenas escolhidas, a forma como a história foi conduzida, tudo tende a uma manipulação para que o público se encante e tenha a sensação de que aquela mulher foi uma estrela incompreendida e que merecia mais destaque na mídia, como grandes mitos da música brasileira. Maysa acabou a vida cantando em uma churrascaria, esquecida pelo público. E a sensação que fica ao ver seu sucesso no Brasil e no mundo é: como ela conseguiu isso? Essa passagem, a minissérie não mostra. Tudo que sabemos é que ela foi controversa, "bebia, falava e amava demais" e lutou para fazer apenas aquilo que tinha vontade. Para tanto, foi capaz de abandonar o filho em um internato por dez anos, acabar um casamento sem nunca deixar de amar o marido e se envolver com vários homens dos mais diversos estilos. Cantou a Bossa e a Fossa sem nunca deixar de ter um ar triste.



A minissérie cumpriu um papel ao contar em nove capítulos a história dessa mulher extrema, mas está longe de ser uma obra-prima da teledramaturgia. O texto foi fraco, Manoel Carlos tão conhecido por suas Helenas no Leblon não conseguiu repetir o feito que teve em Presença de Anita, onde contou uma história forte e concisa. Os diálogos soavam falso em muitos momentos e o vai e vem na história tornava a trajetória confusa e muitas vezes ficava a sensação de querer justificar demais as atitudes da cantora. A fotografia, no entanto, estava impecável. Affonso Beato trouxe um olhar incomum na televisão brasileira e deu um diferencial belo a minissérie que por si só já vale. Além disso, os atores eram todos desconhecidos do grande público, vindos do teatro, e deram um tom mais real. Larissa Maciel cumpriu bem o seu papel, encarnando Maysa com maestria. Só ficou aquém nos momentos em que cantava, insistindo em um ar doce e esboçando um sorriso que a verdadeira nunca fez. Maysa cantava com uma expressão de dor que assustava, talvez Larissa tenha querido amenizar um pouco esse sofrimento, mas acabou ficando falso.

Quanto a direção, Jayme Monjardim cumpriu o seu papel. Há muitos close, sim, mas isso faz parte da linguagem da televisão. Não chegam a incomodar. O ritmo lento e contemplativo que lhe é característico não chegou a tornar a minissérie maçante e não tivemos aqueles céus avermelhados que o diretor tanto adora. Mesmo envolvido emocionalmente, Monjardim conseguiu dirigir a obra com sensibilidade e beleza. Fez de Maysa uma boa minissérie, com grande audiência e que cumpriu o papel de resgatar a história dessa grande cantora, que ainda hoje tem um público fiel.

Então, um pouco da verdadeira Maysa

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