domingo, 17 de julho de 2011

O Astro

Em 1978, Janete Clair parou o Brasil com a telenovela O Astro. A pergunta que todo mundo queria saber a resposta: Quem matou Salomão Ayala? Claro que a trama não se resumia a isso. Era, na verdade, protagonizada por Francisco Cuoco como Herculano, uma espécie de guru com poderes místicos. Agora, a trama de Janete Clair está de volta pelas mãos de Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro em um formato especial.

A nova novela da Rede Globo é uma homenagem aos 55 anos de telenovelas no país, sendo exibida de terça à sexta, às 11 horas da noite. O mesmo formato de grade ocupado desde 1981 pelas minisséries. Mas, não tem como negar que o formato narrativo seja de telenovela. Vários núcleos, tramas paralelas, dinâmica do capítulo, e claro, o anúncio óbvio da chamada da emissora: "Vem aí, a sua nova novela das onze". E ao contrário dos demais remakes de Janete Clair, essa primeira semana agradou ao público, sendo primeiro lugar no Ibope.


O ritmo do primeiro capítulo foi bom, os atores estão bem no papel, o texto é ótimo e foi muito bem adaptado para nossa época atual. Já no segundo capítulo, a qualidade começou a cair um pouco, o tom já excessivamente melodramático de Janete Clair parece que foi elevado pelos adaptadores. A cena em que Márcio enfrenta o pai não chegou aos pés da original, por exemplo. E nem falo da interpretação de Thiago Fragoso, que mesmo não sendo um ator como Tony Ramos, conseguiu defender bem sua opção a la São Francisco de Assis. Mas, a direção da cena, já descendo as escadas tirando a roupa, a música, o texto mais emotivo. Perdeu.


Ainda assim, a trama traz curiosidade. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a simbologia de chamarem Francisco Cuoco para interpretar o mestre de Herculano. O ator fez o protagonista de O Astro em 1978. Ele ensinar a Rodrigo Lombardi o caminho de seu sucesso não deixa de ser algo extremamente simbólico, como uma benção do elenco original para o novo. Dina Sfat, que interpretou Amanda na primeira versão, também está representada por sua filha Bel Kutner que faz parte da trama em um papel secundário, o de Sílvia. Se ela fizesse o papel da mãe seria uma bela homenagem, mas a atriz não tem tanta força, e Carolina Ferraz combina melhor com o papel. Fora isso, a caracterização da atriz está muito próxima de Dina Sfat. Cabelo, maquiagem, postura, tudo parece lembrá-la.

É importante também ressaltar a presença de Daniel Filho como Salomão Ayala já que ele foi o grande parceiro de Janete Clair, dirigindo a maioria de suas tramas, inclusive O Astro em 78. E Regina Duarte, como Clô Ayala, que interpretou algumas das heroínas mais famosas de Janete Clair como Simone de Selva de Pedra. Ou seja, o elenco foi escolhido com muito cuidado. Parece que tudo foi pensado nos mínimos detalhes para fazer eco à trama original. Resta saber se irá encantar o país da mesma forma.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Final de Vale Tudo

Ontem o Canal Viva exibiu o último capítulo da telenovela Vale Tudo. Impressionante como vinte e três anos depois, a trama continua atual: Vale a pena ser honesto no Brasil? Claro que as mudanças políticas, as últimas CPIs, etc nos dão esperança de que tem sim, muita gente honesta, mas ainda tem muito jogo sujo e muita gente molhando a mão de um guarda para se livrar de uma multa.

No último capítulo, tirando a expectativa do nome do assassino de Odete Roitman, que, claro, continuou sendo Leila por engano, o tema foi esse. De um lado, a fuga de Marco Aurélio e Leila no jatinho particular dando uma banana para o país. Até hoje um marco na teledramaturgia. Não era comum ver um vilão como o personagem de Reginaldo Faria se dar tão bem. Ainda mais com esse símbolo agressivo direcionado ao Brasil. Temos que lembrar que eram apenas quatro anos de volta da democraria, a questão cívica ainda era um tabu. O mais genial da montagem do capítulo é que logo após a cena de Marco Aurélio, vem uma cena onde Poliana come uma banana calmamente. A simbologia não poderia ser mais perfeita. Ele foge e a gente tem que engolir.


No outro ponto do capítulo, temos o drama de Ivan, preso e condenado por suborno. Raquel, a personagem de Regina Duarte, símbolo na honestidade na trama, questiona no fim se realmente vale a pena ao ver seu marido atrás das grades enquanto Marcos Aurélios fogem ilesos. A questão é: Ivan realmente errou, fez um suborno para beneficiar a empresa. Mas, Raquel não se conforma que ele tenha ido para cadeia por tão pouco, enquanto outros não. "Prenderam apenas meia dúzia de pobres, como posso acreditar em justiça nesse país?", ela pergunta. Ivan é enfático ao dizer que acredita que o Brasil tenha jeito e que ele seja apenas o primeiro caso.

Ainda nessa conversa, Ivan fala que o povo está aprendendo a votar, o que não deixa de ser um irônia sabendo o que vem depois. Era janeiro de 89, ano das primeiras eleições diretas desde o golpe de 64. Como todos sabem, aquele ano foi eleito Collor de Mello, que sofreu impeachment dois anos depois por corrupção. E hoje, está novamente no governo, como senador. Mas, há sempre a esperança, afinal, estamos apresendo ainda a viver em uma democracia. Tendo a ser mais otimista como Ivan do que pessimista como Raquel que viu os pobres "pagarem o pato". Mesmo com a fuga de Marco Aurélio e Leila, além do final de César, que também conseguiu um belo golpe ao lado de Maria de Fátima, o final de Vale Tudo é otimista.

Vale Tudo construíu sua trama em torno de duas trajetórias: Mãe e Filha, uma honesta outra corrupta em uma espécie de competição velada para provar qual estava certa. No final, Raquel vence na vida pelo seu próprio trabalho, depois de vender sanduiche na praia, vira uma empresária do ramo alimentício reconhecida mundialmente. O caso é que Maria de Fátima também venceu. Depois de vários golpes fracassados, ela reencontra seu parceiro César que lhe dá uma oportunidade ímpar: um casamento de fachada com um príncipe milionário que lhe dará em contrato um milhão por cada ano casado. A única diferença do pensamento original de Fátima é que ela conseguiu vencer sem enganar o noivo, não foi um golpe, mas um acordo para enganar os eleitores do marido e calar a imprensa que insinuava que ele poderia ser homossexual. Os valores continuam invertidos, mas tem uma ponta de mudança nesse caso.

Mas, a questão principal é que o último capítulo tem mais coisas boas que ruins. As pessoas se dão bem, há casamentos, Heleninha para de beber, faz uma exposição de sucesso, Afonso descobre que é pai de Marcinha, reconquista Solange, Aldeide e André se acertam. Enfim, o clima é festivo. Ivan sai da cadeia e lança um livro "Vale Tudo?" falando exatamente da questão da honestidade no país e essa é a mensagem dos autores. Precisamos questionar nossa própria ética. Nossos conceitos. Não é porque a gente acha que todo mundo é corrupto que vamos ser também. E não é porque aconteceu à alguém que a gente ama que vamos relevar, como fez Raquel. No início da novela ela era quem mais defendia essa bandeira, porque ser condescedente agora no ato de Ivan? São nas pequenas coisas que surgem as grandes.