domingo, 25 de setembro de 2011

Quem quiser que conte outra

O final de Cordel Encantado deixa um vazio na teledramaturgia brasileira, mesmo sendo esticada e tendo que dar algumas enroladas para render mais história que o previsto Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão estão de parabéns por conseguir inovar o melodrama de uma maneira tão encantadora. A quantidade de referência foi enorme, e era uma diversão identificá-las a cada capítulo, mas o que chama a atenção é a mistura perfeita de conto de fadas com literatura de cordel que as autoras conseguiram imprimir de uma maneira tão agradável de acompanhar.

Amora Mautner e a equipe de direção, captaneados pelo diretor de núcleo Ricardo Waddington também merecem todos os elogios. Cordel Encantado não foi cuidadosa apenas no início, final e cenas importantes. Cada cena, cada capítulo tinha um cuidado especial na direção e fotografia que ajudavam a criar o clima da história e nos envolver a cada dia. Isso sem falar do trabalho da equipe de arte com tantas roupas, assessórios e cenários misturando época, serão nordestino e reinos distantes. Um cuidado especial em cada detalhe.

A última semana teve vários momentos grandiosos e o mais interessante foi ver o fechamento do ciclo com o sonho de Miguelzinho e do Rei Augusto no primeiro capítulo se concretizar no penúltimo com Timóteo colocando fogo em tudo e Jesuino chegando para salvar a flor Açucena. Um ciclo que se fecha e confirma que as autoras já sabiam onde queriam chegar desde o princípio.



Após a resolução de boa parte das tramas no penúltimo capítulo, ficava a pergunta do que seria do derradeiro epsódio daquela saga sertaneja. Vimos com emoção, a morte de Timóteo queimado, enquanto todos esperavam Açucena acordar novamente de seu sono profundo. Assim, como acompanhamos o sacrifício de Úrsula, provando no final que realmente havia se apaixonado pelo capitão Herculano a ponto de encontrar sua redenção morrendo nos braços do amado. Com quase todos felizes ou encaminhados, o capítulo de quinta-feira acabou com a coroação de Jesuíno em Seráfia. Faltava pouca coisa realmente.

Talvez aí tenha sido o único pecado de Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão. Ao último capítulo restou apenas uma espécie de epílogo da história. Claro que vimos finalmente o casamento de Jesuíno e Açucena, em uma cena divertida e emocionante da confirmação do amor de princesa e cangaceiro anunciados desde a abertura da novela. Vimos também os clássicos nascimentos de bebês e reunião de casais. Mas, o capítulo acabou ficando arrastado, faltando maiores emoções, o que acabou criando uma nova peripércia final: a candidatura de prefeitos a Brogodó. A candidatura e todo o desenrolar da trama de Zóio Furado, foram o ponto negativo da trama, assim como a volta de Ternurinha para os braços de Patácio.

E quando tudo parecia um verdadeiro conto de fadas, Thelma Guedes, Duca Rachid e Thereza Falcão lembraram ao seu público que se tratava mesmo de uma literatura de cordel. Vimos então, irritados, o retorno do coronel, encarnado na figura de Caco Ciocler, tendo novamente Zóio Furado como seu braço direito. Todo o discurso de Jesúino sobre a eterna luta do bem contra o mau, é real, mas não deixa de ser frustrante para aqueles que queriam ver um "e foram felizes para sempre". Interessante foi a conclusão em um forró qualquer onde o cordel foi recitado para um público "real", inclusive as três escritoras. Terminando com os atores Bianca Bin e Cauã Reymond interpretando uma espécie de novos Açucena e Jesuíno da vida "real", reconstruíndo a fantasia da história.


Entre altos e baixos, Cordel Encantado vai entrar para história da teledramaturgia brasileira. Por sua qualidade técnica, por seu elenco afinado, por sua história criativa e encantadora como poucas atualmente. E claro, como consequência de tudo isso, por sua enorme audiência, sempre batendo recordes do horário. Vai deixar saudades. E como dizia um programa infantil que adorava ao final de cada história: "Entrou por uma porta, saiu pela outra, e quem quiser que conte outra".


domingo, 21 de agosto de 2011

Estamos mesmo ficando moralistas?

Em 1988, a personagem Maria de Fátima aprontou todo tipo de maldades, mas terminou ao lado de seu amante César Ribeiro em um acordo nupcial bastante escandaloso com um príncipe distante. Era um triângulo amoroso moderno movido por dinheiro. Tudo certo, ninguém pensou em puni-la. Vinte e três anos depois, a mesma atriz interpreta uma ingênua enfermeira que é presa ao ser enganada pelo namorado, corrompida pelo ódio e maus tratos na cadeia, se transformando em uma vingadora sem escrúpulos. Tanto que acaba provocando a morte de seu marido rico. Dessa vez, os autores acham mais ético puní-la e, faltando três capítulos para o final, Norma é assassinada gerando o oitavo "Quem matou?" da carreira de Gilberto Braga.

O próprio autor declarou que Norma precisava ser punida por seus crimes. E Maria de Fátima não? A moral e bons constumes reinou em Insensato Coração como não se via há muito tempo em telenovelas. A garota Cecília, por exemplo, vivida por Giovanna Lancelotti caiu na lábia do "bad boy" Vinícius de quem engravidou. Mas, na reta final ela perde o bebê e o vínculo com o marginal em uma das decisões mais chocantes na trama. Afinal, não fez muito sentido a visita da garota ao ex na cadeia para pedir que ele ficasse "longe do filho". Como também não fez sentido o empurrão dele, e a forma fácil com que ela perdeu a criança. Basta comparar com a já citada Maria de Fátima que rolou da escadaria do Municipal para perder o bebê que esperava de César e não conseguiu. Parecia que os autores queriam mesmo poupar a menina e o personagem Rafa, seu namorado, de criar o filho de um marginal.

Outra situação moralista foi o desenrolar do personagem André, mulherengo convicto que teve seu pecado pago com um câncer nos testículos. Aliás, toda a cena de descoberta da doença foi vergonhosa. O rapaz não teve nem a chance de se regenerar com sua amada Carol, Camila Pitanga, que acabou casando mesmo com Raul, Antônio Fagundes. Parece que a moral só não falou mais alto no caso da personagem Natalie de Débora Secco que não apenas ficou rica, como se elegeu deputada federal em um misto de crítica às mulhres frutas eleitas e Tiririca, já que ela chegou a citar a famosa frase do palhaço na campanha: "O que faz um deputado? Também não sei, mas vota em mim que eu te conto".

Voltando àa Norma, é interessante perceber como Glória Pires tomou a novela para si. A personagem se tornou protagonista absoluta da trama, sendo sua trajetória de vingança muito mais interessante do que o insosso romance de Pedro e Marina. Até por isso, sua morte foi tão surpreendente e, por algum lado, frustrante. Tanto esforço acabou em três balas disparadas em seu peito por Wanda, uma mãe jocastiana em defesa do seu pimpolho querido. Mas, nem tudo acabou na terça-feira. Mais surpreendente que descobrir que Wanda matou a quase nora, foi perceber que Norma já tinha deixado seu plano de vingança arquitetado. Ela iria mandar prender Léo e ele seria morto na cadeia por Cortez. Norma só não contava ser morta e não poder desfrutar de sua vingança.

Entre erros e acertos, Insensato Coração não é das piores novelas que já foram exibidas no horário nobre como muitos estão afirmando. Tem uma boa estratégia e sempre grandes diálogos, marca de Gilberto Braga que Ricardo Linhares está acompanhando, claro que há exceções, como no caso já citado da doença de André, mas no geral, acompanhamos bons momentos como a cena em que Eunice conversa com o marido Júlio, por exemplo, logo depois de chegar da delegacia. Ou a sutileza da cena entre Wanda e Raul, com a revelação da falsa morte de Léo. Uma novela que não deixa muitas saudades, mas marca uma época em que o politicamente correto e a faixa indicativa de horário dominam o conteúdo televisivo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quem matou Salomão Hayalla?

A pergunta com a qual Janete Clair parou o Brasil em 1978 voltou ontem à noite. No capítulo, Salomão Hayalla, agora interpretado por Daniel Filho, foi assassinado por alguém misterioso, que agora deixou um botão branco como pista. Será que o Brasil vai se movimentar novamente em torno da pergunta fatídica? Pelo menos no twitter ela apareceu inúmeras vezes enquando o capítulo era exibido.

Mas, engana-se quem acredita que esse foi o primeiro "Quem Matou" em telenovelas. Nem mesmo foi Janete Clair, como muitos afirmam, que introduziu o mistério policial nas tramas. Em 1966, Glória Magadan criou o personagem "Rato", primeiro serial killer no gênero televisivo que matou metade do elenco para proteger o tal Sheik. No final da novela, revelou-se que o Rato era a princesa Eden de Bassora. Janete Clair só iria utilizar esse recurso em 1969 na telenovela Véu de Noiva e quase por acaso. O ator Geraldo Del Rey, que fazia o Luciano pediu para sair da trama. Clair, então, criou o assassinato misterioso. "Quem matou Luciano?" não fez tanto sucesso assim, mas marcou o gênero. A assassina foi a personagem de Ana Ariel.

Mesmo com esses dois mistérios, além de um utilizado por Dias Gomes também sem muita repercussão, o "Quem matou Salomão Hayalla?" foi o primeiro grande mistério nacional. O Brasil inteiro se perguntava o nome do assassino, vários bolões foram feitos, a imprensa explorou bastante o mistério e até mesmo o ator Edwin Luisi ficou na dúvida se seu personagem Felipe seria o assassino ou não. Naquela época, Janete Clair não tinha tanta preocupação com o mistério e quando convidou o ator para a telenovela já ofereceu o papel do assassino de Salomão Hayalla. Mas, as reviravoltas só serviram para surpreender a todos com a confirmação do nome do assassino.

A pergunta "Quem matou Salomão Hayalla?" só foi superada em 1988, com o famoso "Quem matou Odete Roitman?" na telenovela Vale Tudo, recentemente reprisada no Canal Viva. Todo o Brasil parou novamente em torno da pergunta e o Caldo Maggi fez um concurso nacional com um prêmio em dinheiro para quem acertasse o mistério. Dez anos depois, a indústria da televisão já estava mais organizada e o esquema para encobrir o nome do assassino teve que ser melhor organizado. Os autores chegaram a escrever cinco finais diferentes e a cena da revelação só foi gravada no dia em que o capítulo foi ao ar. No final, o Brasil se surpreendeu com a notícia de que Leila havia matado a empresária por engano. Queria matar Maria de Fátima que estava tendo um caso com seu marido, Marco Aurélio.



Os autores de Vale Tudo ainda iriam repetir a fórmula de mistério. Aguinaldo Silva, que assinou a co-autoria da trama, apesar de hoje abominar o recurso, utilizou na trama seguinte com o "Quem matou Arturzinho da Tapitanga?". Já Gilberto Braga, o autor principal, dono da sinopse, já havia utilizado a fórmula em Água Viva, com "Quem matou Miguel Fragonari?" e na minissérie Anos Dourados com "Quem matou Lutero?". Anos depois, essa pergunta se tornaria uma marca autoral, já que a partir da minissérie Labirinto, em 1998, todas as duas tramas teriam um "Quem matou?". E muitos já anunciaram e esperam a pergunta em sua atual telenovela: Insensato Coração. "Quem matou Tais Grinaldi?" em Paraíso Tropical. "Quem matou Lineu Vasconcellos?" em Celebridade. E finalmente, o que considero a melhor solução: "Quem matou o Barão Henrique Sobral?" em Força de Um Desejo.

Por que Força de um Desejo tem a melhor solução? Porque a resposta foi completamente surpreendente e coerente ao mesmo tempo. Bárbara Ventura era a última personagem em quem alguém iria apostar as fichas para o nome da assassina. Ela era o alívio cômico da trama. Todas as pistas levavam para a Fazenda Morro Alto e se fosse Higino Ventura o responsável seria muito óbvio. Ser sua esposa por si só não diz muito, mas quando foi explicado o início do assassinato em série, tudo fez um sentido imenso. Bárbara matou a baronesa Helena Sobral, paixão de adolescência de seu marido. O resto foi consequência para encobrir o primeiro crime.

Além disso, a solução da trama foi explicada com cenas da telenovela. Hoje, analisando-a com detalhes posso perceber que desde o início os indícios estavam lá. São muitos detalhes que parecem passar despercebidos como a tentativa de aproximação de Bárbara de pessoas que conhecessem a baronesa. A cumplicidade do capanga Vitório ao fazer com que o médico Xavier voltasse a ser o médico dos Ventura, a doação dos remédios da baronesa Helena à Xavier, após sua morte, fazendo com que o médico pudesse descobrir o primeiro assassinato de Bárbara e fosse morto por isso. A aparição de Bárbara no bar, na noite em que o padre foi assassinado. A escrava da fazenda dos Castro Rebelo e seu medo de Higino Ventura, a ligação das mortes pelo remédio. A visita do Barão ao amigo Castro Rebelo no dia de sua morte. A necessidade de falar com Alice. Enfim, tudo se encaixa perfeitamente. Para completar, a forma como tudo foi descoberto foi muito divertido, com uma falsa notícia de confissão de Higino Ventura, que fez Bárbara confessar o crime.


Outros autores também já utilizaram do recurso, como Lauro César Muniz e Sílvio de Abreu, este tendo até mesmo realizado uma telenovela totalmente voltada para um serial killer: A Próxima Vítima. A trama fez um enorme sucesso revelando o nome de Adalberto como o assassino na versão brasileira. Já em Portugal, o final exibido foi com Ulisses como responsável pelas mortes, esse final foi exibido também na versão do Vale a Pena Ver de Novo da Rede Globo. A última telenovela de Sílvio de Abreu também teve um assassinato. Primeiro ele fez uma tentativa de repetir o mistério de O Rebu com a pergunta "Quem morreu?", mas não funcionou direito, pois no capítulo vários personagens brigaram com o personagem Saulo, dando indícios que ele seria o assassinado.

O fato é que, bem feito ou não, com muita ou pouca repercussão, mistério policial e telenovela parece mesmo um bom casamento para a boa audiência. Resta saber como será a repercussão desse novo "Quem matou Salomão Hayalla?" e se isso vai fazer Gilberto Braga e Ricardo Linhares desistirem de perguntar ao país "Quem matou Léo?"

domingo, 17 de julho de 2011

O Astro

Em 1978, Janete Clair parou o Brasil com a telenovela O Astro. A pergunta que todo mundo queria saber a resposta: Quem matou Salomão Ayala? Claro que a trama não se resumia a isso. Era, na verdade, protagonizada por Francisco Cuoco como Herculano, uma espécie de guru com poderes místicos. Agora, a trama de Janete Clair está de volta pelas mãos de Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro em um formato especial.

A nova novela da Rede Globo é uma homenagem aos 55 anos de telenovelas no país, sendo exibida de terça à sexta, às 11 horas da noite. O mesmo formato de grade ocupado desde 1981 pelas minisséries. Mas, não tem como negar que o formato narrativo seja de telenovela. Vários núcleos, tramas paralelas, dinâmica do capítulo, e claro, o anúncio óbvio da chamada da emissora: "Vem aí, a sua nova novela das onze". E ao contrário dos demais remakes de Janete Clair, essa primeira semana agradou ao público, sendo primeiro lugar no Ibope.


O ritmo do primeiro capítulo foi bom, os atores estão bem no papel, o texto é ótimo e foi muito bem adaptado para nossa época atual. Já no segundo capítulo, a qualidade começou a cair um pouco, o tom já excessivamente melodramático de Janete Clair parece que foi elevado pelos adaptadores. A cena em que Márcio enfrenta o pai não chegou aos pés da original, por exemplo. E nem falo da interpretação de Thiago Fragoso, que mesmo não sendo um ator como Tony Ramos, conseguiu defender bem sua opção a la São Francisco de Assis. Mas, a direção da cena, já descendo as escadas tirando a roupa, a música, o texto mais emotivo. Perdeu.


Ainda assim, a trama traz curiosidade. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a simbologia de chamarem Francisco Cuoco para interpretar o mestre de Herculano. O ator fez o protagonista de O Astro em 1978. Ele ensinar a Rodrigo Lombardi o caminho de seu sucesso não deixa de ser algo extremamente simbólico, como uma benção do elenco original para o novo. Dina Sfat, que interpretou Amanda na primeira versão, também está representada por sua filha Bel Kutner que faz parte da trama em um papel secundário, o de Sílvia. Se ela fizesse o papel da mãe seria uma bela homenagem, mas a atriz não tem tanta força, e Carolina Ferraz combina melhor com o papel. Fora isso, a caracterização da atriz está muito próxima de Dina Sfat. Cabelo, maquiagem, postura, tudo parece lembrá-la.

É importante também ressaltar a presença de Daniel Filho como Salomão Ayala já que ele foi o grande parceiro de Janete Clair, dirigindo a maioria de suas tramas, inclusive O Astro em 78. E Regina Duarte, como Clô Ayala, que interpretou algumas das heroínas mais famosas de Janete Clair como Simone de Selva de Pedra. Ou seja, o elenco foi escolhido com muito cuidado. Parece que tudo foi pensado nos mínimos detalhes para fazer eco à trama original. Resta saber se irá encantar o país da mesma forma.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Final de Vale Tudo

Ontem o Canal Viva exibiu o último capítulo da telenovela Vale Tudo. Impressionante como vinte e três anos depois, a trama continua atual: Vale a pena ser honesto no Brasil? Claro que as mudanças políticas, as últimas CPIs, etc nos dão esperança de que tem sim, muita gente honesta, mas ainda tem muito jogo sujo e muita gente molhando a mão de um guarda para se livrar de uma multa.

No último capítulo, tirando a expectativa do nome do assassino de Odete Roitman, que, claro, continuou sendo Leila por engano, o tema foi esse. De um lado, a fuga de Marco Aurélio e Leila no jatinho particular dando uma banana para o país. Até hoje um marco na teledramaturgia. Não era comum ver um vilão como o personagem de Reginaldo Faria se dar tão bem. Ainda mais com esse símbolo agressivo direcionado ao Brasil. Temos que lembrar que eram apenas quatro anos de volta da democraria, a questão cívica ainda era um tabu. O mais genial da montagem do capítulo é que logo após a cena de Marco Aurélio, vem uma cena onde Poliana come uma banana calmamente. A simbologia não poderia ser mais perfeita. Ele foge e a gente tem que engolir.


No outro ponto do capítulo, temos o drama de Ivan, preso e condenado por suborno. Raquel, a personagem de Regina Duarte, símbolo na honestidade na trama, questiona no fim se realmente vale a pena ao ver seu marido atrás das grades enquanto Marcos Aurélios fogem ilesos. A questão é: Ivan realmente errou, fez um suborno para beneficiar a empresa. Mas, Raquel não se conforma que ele tenha ido para cadeia por tão pouco, enquanto outros não. "Prenderam apenas meia dúzia de pobres, como posso acreditar em justiça nesse país?", ela pergunta. Ivan é enfático ao dizer que acredita que o Brasil tenha jeito e que ele seja apenas o primeiro caso.

Ainda nessa conversa, Ivan fala que o povo está aprendendo a votar, o que não deixa de ser um irônia sabendo o que vem depois. Era janeiro de 89, ano das primeiras eleições diretas desde o golpe de 64. Como todos sabem, aquele ano foi eleito Collor de Mello, que sofreu impeachment dois anos depois por corrupção. E hoje, está novamente no governo, como senador. Mas, há sempre a esperança, afinal, estamos apresendo ainda a viver em uma democracia. Tendo a ser mais otimista como Ivan do que pessimista como Raquel que viu os pobres "pagarem o pato". Mesmo com a fuga de Marco Aurélio e Leila, além do final de César, que também conseguiu um belo golpe ao lado de Maria de Fátima, o final de Vale Tudo é otimista.

Vale Tudo construíu sua trama em torno de duas trajetórias: Mãe e Filha, uma honesta outra corrupta em uma espécie de competição velada para provar qual estava certa. No final, Raquel vence na vida pelo seu próprio trabalho, depois de vender sanduiche na praia, vira uma empresária do ramo alimentício reconhecida mundialmente. O caso é que Maria de Fátima também venceu. Depois de vários golpes fracassados, ela reencontra seu parceiro César que lhe dá uma oportunidade ímpar: um casamento de fachada com um príncipe milionário que lhe dará em contrato um milhão por cada ano casado. A única diferença do pensamento original de Fátima é que ela conseguiu vencer sem enganar o noivo, não foi um golpe, mas um acordo para enganar os eleitores do marido e calar a imprensa que insinuava que ele poderia ser homossexual. Os valores continuam invertidos, mas tem uma ponta de mudança nesse caso.

Mas, a questão principal é que o último capítulo tem mais coisas boas que ruins. As pessoas se dão bem, há casamentos, Heleninha para de beber, faz uma exposição de sucesso, Afonso descobre que é pai de Marcinha, reconquista Solange, Aldeide e André se acertam. Enfim, o clima é festivo. Ivan sai da cadeia e lança um livro "Vale Tudo?" falando exatamente da questão da honestidade no país e essa é a mensagem dos autores. Precisamos questionar nossa própria ética. Nossos conceitos. Não é porque a gente acha que todo mundo é corrupto que vamos ser também. E não é porque aconteceu à alguém que a gente ama que vamos relevar, como fez Raquel. No início da novela ela era quem mais defendia essa bandeira, porque ser condescedente agora no ato de Ivan? São nas pequenas coisas que surgem as grandes.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aberturas literais de novelas

Uma espécie de moda invadiu o youtube. Pegar aberturas de novela e recriar suas letras de forma literal, como se fosse uma audiodescrição. Tudo fica bem engraçado e criativo.

A abertura de Vale Tudo foi a que ficou melhor. A música de Cazuza e o ritmo clipado das imagens ajuda na composição, basta ir falando as imagens que aparecem na tela. Não há uma ação a ser descrita.


A abertura de Rainha da Sucata é interessante também, mas é mais difícil descrever a ação, até porque tudo gira em torno da dança. Acabam apelando para insinuações sexuais que não estão exatamente na tela. Ainda assim, tem pontos engraçados.


A abertura de Vamp é ainda mais complicada. Afinal, aqui tem uma história acontecendo. Colocar a descrição no ritmo da música é difícil, fora que a presença de Cláudia Ohana acaba sendo privilegiada na letra. Mas, destaque para a brincadeira final de "cães não viram vampiros, erraram a história".


Por fim, a abertura de Brega & Chique. Aqui o humor chega mais próximo da abertura de Vale Tudo. As modelos na tela tem as ações descritas de uma forma divertida e rápida. Detalhe que eles chamam a atenção para a presença de Doris Giesse, e passam batido por Ísis de Oliveira. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A volta dos Anos Rebeldes

Amor e Revolução ainda tenta conquistar seus fãs, enquanto isso, o canal Viva reprisa desde o dia 30 de maio a minissérie Anos Rebeldes. Como é bom ver de novo Maria Lúcia, João Alfredo, Edgar e, principalmente, Heloísa preenchendo as nossas telas de televisão. É, sem dúvidas, minha minissérie preferida. Basta ler o post que fiz em 2009 sobre a obra. Hoje, queria levantar uma nova questão. Na época, a minissérie Anos Rebeldes foi associada ao movimento caras pintadas que lutou pelo impeachment do então presidente Collor de Mello. Será que hoje, ela funcionaria para pensar um pouco mais sobre o país?

Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito de forma direta, após vinte anos de regime militar, vencendo o candidato do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva no segundo turno em novembro de 1989. Seus lemas em campanha eram a “caça aos marajás”, combate à corrupção e progresso do país, representado por sua imagem jovem. Em maio de 1992, Pedro Collor de Mello, irmão do então presidente da república, entregou à Revista Veja provas de corrupção dentro do Governo, relacionadas ao tesoureiro Paulo César Farias, homem de total confiança do presidente. O caso foi investigado e, a cada nova denúncia, outros envolvidos foram aparecendo até atingir o próprio presidente. Collor resistiu até o dia 29 de dezembro de 1992 quando renunciou ao cargo. Ainda assim, foi julgado pelo Senado e condenado, perdendo seus direitos políticos por oito anos.

O povo só se envolveu diretamente no caso em 14 de agosto de 1992 quando uma enorme passeata de estudantes cobriu as ruas do Rio de Janeiro pedindo o afastamento do presidente Fernando Collor de Mello. Com criatividade, os jovens pintaram suas caras com tinta, nas cores da bandeira do Brasil, daí o apelido de “Caras Pintadas”, além de faixas e cartazes diversos. Entre os cartazes, um chama a atenção para o tema: “Anos Rebeldes, próximo capítulo: Fora Collor, impeachment já”, em referência à minissérie da Rede Globo que terminava naquele dia. O presidente foi, então, à televisão pedir que a população saísse no domingo seguinte com as cores da bandeira em sinal de apoio ao governo. Em todo o país, as pessoas responderam saindo às ruas de preto, instalando de vez a manifestação popular a favor do impeachment, que foi visto como um dos principais motivos para o processo ter ido até o fim, principalmente pela aproximação das eleições para prefeito.

A minissérie Anos Rebeldes foi ao ar de 14 de julho a 14 de agosto de 1992, com vinte capítulos, retratando o período da ditadura militar que aconteceu no país sob a óptica de um grupo de jovens divididos entre idealistas e individualistas. Era a primeira obra de ficção na televisão a retratar o período e serviu como um resgate histórico para a população que antes vivia sob censura. A disputa simbólica de ideais pode ser resumida nos personagens João Alfredo e Heloísa, dois idealistas extremistas que se envolvem na luta armada e tentam derrubar o regime. E nos personagens Maria Lúcia e Edgar, dois individualistas, mas não de má índole, que preferem não se envolver e continuar suas vidas, independente da situação.

Em 1992, parecia mesmo que os jovens buscavam essa identificação, por isso, o movimento caras pintadas usava símbolos da minissérie como a música Alegria Alegria de Caetano Veloso, tema de abertura da minissérie, em suas caminhadas. Hoje, após quase vinte anos, a corrupção no país continua, vide o recente caso Palocci, mas parece que nos acostumamos a ela. Será que a reprise de Anos Rebeldes tem alguma chance de acordar novamente a juventudade brasileira em manifestações democráticas? Se ajudar a, pelo menos, pensar melhor na hora de votar, já vai ser um grande feito, pena que não temos eleições no país este ano.

domingo, 5 de junho de 2011

Cordel Encantado e a força do coronel

A novela Cordel Encantado melhora a cada dia. Uma verdadeira fábula que mistura vários ícones e lendas de nossa cultura ocidental, possui uma narrativa gostosa de acompanhar. Os diálogos são muito bem feitos, o figurino bem cuidado, a direção caprichosa e o elenco afinado. Um sucesso como não se via há muito na televisão brasileira. É interessante perceber as referências diversas aos contos de fadas em uma mistura de Cinderela e Bela Adormecia, a literatura de cordel com cangaceiro, herói nordestino e sagas diversas. Temos ainda referências ao homem da máscara de ferro que também se tornou uma espécie de Fantasma da Ópera dentro do cinema local. Uma espécie de Robin Hood no justiceiro de Jejuíno e Antonio Conselheiro na figura de Miguelzinho. Agora, uma coisa me incomoda na trama, a figura do Coronel.

O coronelismo dominou o nordeste que ainda hoje vive as consequências desse tipo de política. Ele era aquele rico fazendeiro, explorador do trabalho semi-escravo, mas que apesar de tudo possuía uma figura imponente, que através de um certo carisma enganava o povo que acabava admirando sua figura e sua política de pão e circo. O Coronel Januário Cabral, interpretado por Reginaldo Faria, era o típico Coronel nordestino, tanto que tinha até mesmo um acerto com o cangaceiro Herculano que o respeitava. Mas, com sua morte, um vazio ficou nessa história e seu filho Timóteo assumiu o seu posto sem convencer. Não falo isso pela interpretação de Bruno Galiasso, mas pela fraca construção do personagem.


Timóteo é o típico garoto mimado, sem regras nem limites que sempre viveu de pequenos golpes e nunca se conformou em perder alguma coisa que queria. Seu objeto de desejo: Açucena. Como ela sempre gostou de Jesuíno, este se tornou o arqui-inimigo do coronelzinho. Com a morte do pai, Timóteo se tornou o vilão maniqueísta clássico, sem nem um ponto positivo. Nada parece ficar a sua frente. Mas como ele consegue? Com meia dúzia de capangas domina prefeito, delegado, empregados e família? Até a família real de Seráfila sucumbe diante de seu "poder"? Um moleque sem o menor carisma, sem o menor sentido, ser levado a sério como um coronel? Tudo soa muito falso.

Para piorar temos agora sua junção ao atrapalhado delegado Batoré. Sua obsessão por Antônio já perdeu a graça e começa a partir para o lado do absurdo. Se o sequestro já ultrapassou limites, que podemos dizer da cena do capítulo de sábado quando ele invade a fazenda dizendo que roubaram Antônia dele e que ele a quer de volta? Apesar da sempre excelente atuação de Osmar Prado está difícil suportar as cenas de seu personagem. E pior ainda acompanhar a naturalidade com que sua irmã Neusa vê suas ações. Complicando ainda mais como todo bom melodrama, a pobre da Antônia não consegue casar com seu príncipe que agora só pensa na pobreza do povo do sertão? Será ele o rei esperado por Milguezinho?

Cordel, mesmo tendo que prolongar a narrativa por mais dois meses devido a boa audiência, continua encantando, mas essa pequena parte da trama incomoda. A mim, diria até que irrita. O que nos consola é poder acompanhar a cada vez mais emocionante trajetória de Jesuíno, Açucena, Felipe e Doralice. Ver a luta do capitão Herculano, a dor de Petrus e sua emocionante cena de retirada da máscara, o amor do Reio Augusto com Maria Cesária e as engraçadas observações da rainha Efigênia. Timóteo pode querer tentar ser dono de Brogodó, mas não vai conseguir estragar uma história tão bem arquitetada e executada. Já entrou para história.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quebra de tabu na teledramaturgia brasileira

Entre quarta e quinta-feira um dos assuntos preferidos da rede social Twitter foi a telenovela Amor e Revolução. O termo #amorerevolucao ficou no entre os mais citados no microblog (TTs) nos dois dias. O motivo não foi o texto de Tiago Santiago, muito menos os temas principais explorados na novela, ou mesmo as cenas de tortura que estão incomodando muitos militares. É que finalmente, a televisão aberta está presenciando mais uma quebra de tabu: o beijo gay.

Durante anos a Rede Globo ensaiou colocar no ar uma cena dessas. A telenovela América chegou a gravar e anunciar em seu último capítulo. Mas, horas antes da exibição do mesmo chegou a ordem para que não fosse ao ar. A Rede Record também ensaiou algumas promessas. Mas, era demais para televisão do Bispo. Coube então, ao conservador SBT, do sempre esperto Sílvio Santos, aproveitar ao máximo esse momento. O beijo que foi prometido para o capítulo da quarta-feira, acabou acontecendo no meio do capítulo da quinta. A estratégia foi para alongar ao máximo a expectativa e parece ter funcionado. Pelo menos, ganhou o título de primeiro. Enquanto em outras televisões, em séries diversas, esse assunto já não causa tanta polêmica, aqui continua um grande tabu. E está mais do que na hora de deixar de ser. Principalmente quando se discute direitos homoafetivos no congresso.

O problema que vejo nesse beijo, está na narrativa. Vejam a cena:

Nem vou discutir a direção, a trilha sonora ou detalhes como o batom que continua intacto de ambas ou o pé levantado de Luciana Vendramini que dá um tom completamente armado da cena. Mas, se pudessem ver aqui o diálogo de antes e depois das duas personagens, entenderiam o que estou falando. A cena ficou uma grande encenação em prol do beijo gay. Esqueceram a narrativa. A personagem de Luciana Vendramini, Marcela, é homossexual e apaixonada pela personagem de Giselle Tigre, Mariana. A moça, porém, não é homossexual, sendo apaixonada pelo colega de trabalho que é casado.

A conversa que parecia ter um tom de jogral começa com Marcela se declarando. Mariana fica confusão, diz que não sabe o que pensar. Os diálogos soam falsos, ensaiados, não há a emoção natural em uma cena tensa como essa. Marcela, então, pede um beijo como teste, para ver se Mariana gosta. As duas se beijam por um tempo, até que Mariana interrompe dizendo que não é bem isso. Sem constrangimentos, emoções a flor da pele ou qualquer espécie de naturalidade, as duas começam a discursar com as conquistas femininas na última década. Lembrem que estamos na década de 60, auge dessa discussão. Mas, daí compreender essa conversa como normal...


Para mim, o que ficou foi apenas a preocupação de quebrar o tabu. Sem maiores preocupações com a trama em si. "O beijo tinha que sair, depois a gente pensa nos personagens." Agora, Tiago Santiago já anunciou que o romance irá adiante se o público quiser. Ele já tinha feito uma enquete parecida em Prova de Amor, da Record. Acho o processo interessante, não por acaso, o autor trabalhou anos no Você Decide da Rede Globo. A única coisa incômoda é que em busca da audiência a todo custo, o texto fique sempre em último lugar. De qualquer forma, foram todos corajosos. Resta a dúvida se abrirá portas para novas investidas do gênero.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Adeus robô de Morde e Assopra

A audiência de Morde e Assopra caia a cada capítulo. Robôs e Dinossauros não pareciam mesmo temas que combinassem com teledramaturgia. Aos poucos, os robôs de Ícaro, personagem de Mateus Solano foram dando adeus. Hoje, Flávia Alessandra deixou de ser uma andróide e como era previsto, não saiu de cena. Ao mesmo tempo em que a robô era atingida por um raio, a verdadeira esposa de Ícaro batia a sua porta com uma história difícil de ser engolida e um garoto a tira colo.

Naomi apareceu atropelando Nivaldo e fugindo do local do crime, mas antes ligou para delegacia para avisar sobre o acidente. Maria João, no entanto, já tinha avisado a todos que uma mulher de capa de chuva havia sido a responsável pelo acidente. Na casa de Ícaro tudo ainda está muito confuso. Ele não acredita que sua esposa estivesse esse tempo todo em coma e depois procurando por ele. Naomi tentou de todas as formas, mas uma dúvida pairava no ar. E ela ainda nem sabe que existia uma andróide com a sua aparência. Fico imaginando quando o personagem de Caio Blat ficar frente a frente com ela.

Mas, vamos ao tema do post. Será que o robô era mesmo o grande problema de Morde e Assopra? Ou a história que foi construída para ele é que não funcionou tão bem? Afinal, já tivemos seres tão estranhos em tantas novelas em sua história como lobisomens, vampiros, demônios, anjos, E.T.s e viajantes no tempo. Não assiti toda a novela para analisar com maiores detalhes, mas do pouco que vi, a Naomi verdadeira deu outra vida a novela. A cena de reencontro do casal foi interessante, densa, dava vontade de acompanhar. A repercussão na internet foi grande, com vários comentários no Twitter. Todos pareciam mesmo aliviados com o fim da robô da discórdia. Como se sua presença ou ausência fosse sinônimo de boa ou má dramaturgia. Isso me incomoda um pouco, pois acaba criando tabus que não ajudam em nada a criatividade das telenovelas.

Aliás, fico imaginando o que Walcyr Carrasco teve que fazer com sua sinopse já que a robô Naomi era a base de sua história. Tanto que ela está na abertura junto com o outro tema polêmico: os dinossauros. A idéia de triângulo amoroso com a robô acabou naufragando, mas o jardineiro Leandro, sem dúvidas, vai começar a interagir junto a verdadeira Naomi. Resta saber como será a relação dos dois. Mas, ao mesmo tempo que resolveu o problema do robô de maneira tão radical, será que mexerá também nos dinossauros? Porque se isso acontecer, vai ser uma mudança mais radical do que o que Janete Clair fez com Anastácia, a Mulher sem Destino, que um vulcão destruiu quase todos os personagens, recomeçando a novela quase do zero.


Novela é mesmo uma obra aberta, que a cada dia precisa se reinventar para agradar ao público. A televisão está perdendo sua audiência a cada dia e seu carro chefe sofre muito com a cobrança. Por isso, tanta mudança. A situação de Morde e Assopra estava tão complicada que nem encurtar a trama iria resolver. Só mesmo mexendo e muito no texto. De qualquer forma, em parte, outra novela começou hoje. Será que vão mudar a abertura também?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cordel Encantado: uma beleza de novela

Telenovelas sempre foram uma paixão minha. Tanto que criei esse blog e escolhi o produto como minha pesquisa de mestrado. Noveleira nata, no entanto, estava sofrendo com as últimas obras da nossa televisão que sempre traziam tramas aquém das apresentadas anteriormente. Eis que surge Cordel Encatado. Trama das 18hs da Rede Globo como um bálsamo em minha televisão, devolvendo o prazer de assistir a uma telenovela. Interessante que seja logo uma trama tão diferente daquilo que se configurou como uma telenovela brasileira, afinal temos reis e rainhas de reinos distantes, imagens com qualidade próximas ao cinema e uma mistura de fantasia interessante que nos remete aos antigos folhetins. Mas, para que ninguém diga que não é telenovela, temos, também, ação, comédia, romance e aventura bem dosados em um roteiro inteligente com bom ritmo e diálogos na medida certa que vão nos enovelando a cada dia.

Já no primeiro capítulo somos surpreendidos com a produção. Gravado na Europa em castelos, vemos uma batalha épica com proporções gigantescas. Claro que muito figurante ali deve ter sido colocado por computação gráfica, mas um desavisado que ligasse o canal na hora poderia confundir com um filme ou uma série norte americana, tamanho o cuidado com a direção de arte e o realismo das batalhas. A fotografia, então, é extremamente bem cuidada. sabemos que primeiro capítulo de novela sempre tem um capricho extra, mas Cordel Encantado conseguiu manter o nível durante toda a primeira semana, com sequências impressionantes, cuidados com enquadramento e movimento de câmera. O elenco é outro destaque. Bem introsado com personagens bem construídos e um humor constante. Principalmente por Bertra Loran como a Rainha Mãe, que está dando um show de bom humor. Já entra para o hall de grandes personagens da nossa teledramaturgia.


Temos mocinhos e mocinhas, vilões e personagens dúbios como todo bom folhetim. Apesar da evolução da nossa teledramaturgia com obras mais próximas do nosso cotidiano, a realidade parece que exagerou e nos invadiu de uma forma que ficamos cansados. É um ótimo respiro ver algo mágico que mistura o nordeste do século passado já tão comum ao horário com um reino distante dos contos de fadas. Quem não sonha com um príncipe encantado? E o mais interessante nessa mistura é que temos um quarteto amoroso totalmente indefinido nessa construção mágica. Afinal, nenhum deles é vilão, e os quatro se misturam entre amor, destino e desejo. Jesuíno, Açuncena, Dora e o príncipe Felipe ainda podem se misturar e muito nessa história.

Outra boa sacada da trama é lidar com o cangaço. Parte da nossa história bastante polêmico, onde uns vêem como bandidos cruéis e outros como justiceiros do povo. Através do personagem Herculano temos uma nova visão de honra, onde não faltam referências históricas, nem discussões filosóficas, principalmente dos intelectuais de esquerda. Thelma Guedes e Duca Rachid parece que finalmente acertaram seu texto dosando amor, fantasia, política, discussões sociais de uma forma harmônica. E a direção de Amora Mautner com supervisão de Ricardo Waddington, salta aos olhos como um produto diferenciado na televisão.

Coroando a boa produção, a telenovela tem rendido bons índices no Ibope, aos poucos foi crescendo pontos e já bateu recordes atuais de audiência, superando sua antecessora e chegando a medir a mesma coisa que a telenovela do horário das sete. Se continuar com o boca boca positivo, logo Cordel Encantado se torna fenômeno de audiência. Que bom que podemos contar com uma boa telenovela no ar atualmente.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Amor e Revolução

Estreou ontem a novela novela de Tiago Santiago no SBT. Amor e Revolução se passa na época da ditadura militar e tem o golpe como pano de fundo de um amor proibido. Fica difícil não comparar com Anos Rebeldes, uma das melhores minisséries da Rede Globo já que o período e o mote são parecidos. A diferença básica é que o revolucionário João Alfredo e a alienada Maria Lúcia da minissérie não estavam em lados tão opostos quanto a revolucionária Maria e o militar José Guerra. Ainda assim, o romance foi uma inserção quase discreta no capítulo inicial da telenovela que carregou as tintas no golpe com muitas cenas de correria, tiros, massacres, tortura. É irônico ver a forma como nos foi apresentada a passagem de democracia para ditadura, os personagens agiam como se já soubessem o que vinha pela frente, o que não é totalmente verdade. Tiago Santiago e a direção nos apresentaram os anos de chumbo se esquecendo que estávamos apenas em abril de 1964, a maioria das pessoas não tinha a menor idéia do que estava acontecendo ainda, muitas cenas soaram falsas como se lessem um livro de história.

A direção de atores e os diálogos são os pontos mais problemáticos, mas a intenção parece ser boa. Há um cuidado na direção de arte e reconstituição de época. Citação de fatos reais, como mortes e prisões. Além do depoimento ao final do capítulo, da mesma forma como as telenovelas de Manoel Carlos na emissora concorrente. Isso dá uma forma maior a trama, nos envolvendo no drama que nosso país viveu em vinte anos de tortura. Mesmo que tenha erros, acaba gerando curiosidade. Nisso Tiago Santiago acertou em cheio.


Outro problema do capítulo foi a trilha sonora. Nem vou entrar no mérito de que todas as músicas ali tocadas são ícones da luta contra ditadura e foram criadas anos depois daquelas primeiras cenas. Nem sempre contamos com um Gilberto Braga que teve o cuidado de na trilha de Anos Rebeldes colocar algumas músicas só em instrumental antes de chegar a época em que ela foi criada. Mas, houve um excesso imenso de melodias a cada cena. Parece que toda a trilha sonora da telenovela tocou no primeiro capítulo. Isso, além de ser exagerado acaba tirando a surpresa de algumas canções que poderiam vir mais a frente, gerando um maior impacto.

Ainda é cedo para dizer que Amor e Revolução é uma boa novela e se irá conseguir subir o Ibope do SBT, mas uma coisa pelo menos já podemos admirar. Sua abertura. Mesmo sem os recursos de Hans Donner e os aparelhos da Rede Globo, a idéia criativa é perfeita. Ao som de Roda Vida, música de Chico Buarque de Holanda composta em 1967, vamos acompanhando algumas cenas simbólicas do estado de ditadura. Começa com a cadeira do presidente onde um general aparece e depois vemos cenas cotidianas como uma família ao redor da mesa e o pai sumindo. Depois cenas mais característica como um depoimento, uma sala de tortura, um palco, o meio da rua, a redação de um jornal, a sala de aula.

A escolha do SBT em apresentar o capítulo sem cortes e a abertura no final, como a própria Rede Record já fez tantas vezes, foi bastante feliz. Primeiro porque sem comerciais, não saímos do canal, curiosos com o capítulo. Depois, porque terminar com essa abertura inteligente e a música emocionante de Chico foi a melhor maneira de nos deixar um gancho para o próximo capítulo. Uma promessa de que as coisas podem melhorar. Tomara. 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Foi mesmo um Tititi

Acabou Tititi e a impressão que fica é que a única coisa que a novela de Maria Adelaide Amaral tem da escrita por Cassiano Gabus Mendes em 1986 é o nome. O estilo farsesco e escrachado dessa nova versão me lembra muito mais a clássica Guerra dos Sexos de Sílvio de Abreu do que a outra trama. Não assisti a novela por inteiro, então, não me atrevo a analisá-la, falo isso pelas poucas coisas que vi e principalmente pelo último capítulo que foi ao ar hoje. O que é aquela banda de Jaqueline por exemplo? A mistura de personagens, as brincadeiras, referências e total falta de senso de ridículo é genial. Drica Moraes estava hilária. Maria Zilda tocando, uma figura. Vera Zimmermann também. O time funcionou perfeitamente e, ao contrário de Sandra Brea na primeira versão, Jakie foi mesmo um arraso, conquistando o público.

Uma coisa que não consigo entender é o sucesso desse novo Jacques Leclair. Nada contra a Alexandre Borges que já fez muitos papéis interessantes, mas essa coisa caricatural, cheia de caras e bocas realmente não me convence. Dá agonia, é bem da verdade. Tão diferente de Reginaldo Farias que era um homem muito mais normal. Já Murilo Benício me surpreendeu. Consegui simpatizar com o Ariclenes dessa versão muito mais do que com o próprio Luis Gustavo. Pena que ele acabou ficando com a Marta nessa versão, ao invés de seu eterno amor Suzana, que na época era vivida por Marieta Severo.

A mistura de tramas como Plumas e Paetês acabou prinvilegiando muito mais a trama dessa segunda novela quando o assunto é melodrama clássico. O triângulo vivido por Marcela, Edgar e Renato monopolizou boa parte das atenções, sendo o grande mistério no final e o gancho do penúltimo capítulo. Não me surpreende tanto, já que apesar de menos lembrada a trama de 1980 era forte e todos gostam de um bom romance. Só para pontuar, na versão original o triângulo era composto por Elizabeth Savalla, Cláudio Marzo e José Wilker. A crescente atenção desse triângulo e a mudança de foco de alguns tipos acabou alterando a coisa que mais gostava na Tititi original e que mais guardava na memória: o amor de Luti e Val.

 
Valquíria que era interpretada por Malu Mader e Luis Otávio que era interpretado por Cássio Gabus Mendes eram o casal sensação da história. Um romance proibido totalmente envolvente que chegou ao ponto de simular a cena final de Romeu e Julieta era uma das melhores recordações que tinha. Ainda lembro dos dois deitados na sala esperando o veneno fazer efeito com detalhes. Lembro também da cena final dos dois saindo de moto, enquanto deixam os pais discutindo no jardim. Era uma época com mais pureza. Sem querer ser saudosista, essa é a mudança que mais lamento na nova trama, mas, como já disse, tivemos Marcela e Edgar para entreter o público.

Além da mistura de tramas e mudança de tom, uma das coisas que mais chamou a atenção em Tititi foi a constante referência a novelas antigas. Tiveram cenas já antológicas como Jaqueline e Suzana cantando a música tema de Fera Radical, uma das novelas mais marcantes de Malu Mader. Como se não bastasse, Ari ainda entra e pergunta se aquilo é Faísca e Espoleta, a dupla caipira de A Favorita protagonizada por Cláudia Raia. Outro momento engraçado foi vestir Luis Gustavo, que já estava na trama em seu eterno Mário Fofoca, como Victor Valentim para acalmar a titia. Foram muitas as referências, brincadeiras e misturas.

E no último capítulo Fábio Assunção aparece como Fernando Flores, um ator que vai fazer o remake de Fera Radical e ser um possível pretendente de Suzana. Há tanta mistura só nesses minutinhos que fica engraçado destrinchar. Como já disse, Fera Radical foi protagonizada por Malu Mader. Sua personagem Cláudia era par romântico de José Mayer, que se chamava Fernando Flores. Fora isso, Fábio Assunção é um dos pares românticos mais famosos de Malu, já tendo trabalhado juntos várias vezes, sendo o mais marcante Ester e Inácio de Força de um desejo. A cena foi ótima, tomara que Fábio retorne logo as telas. Destaque ainda para aparição de Marília Pêra como a sua inesquecível personagem Rafaela de Brega e Chique. Foi ótimo vê-la citar o falecido marido Herbert, vivido pelo saudoso Raul Cortez, detalhe que Herbert no início da novela era Jorge Dória, mas ele finge a morte e faz uma cirurgia plástica. Bom, esse absurdo a gente deixa para outro texto.

Outro grande destaque dessa versão ficou por conta da computação gráfica. Se em 1986, a abertura da novela marcou por ser a primeira a utilizar esses recursos, nessa versão, toda a trama abusou de efeitos, principalmente de passagem. Era papel picotado, tesoura passando, ziper fechando, papel amassando. Cada detalhe dava um brilho diferente. Com todo esse visual inovador e tom mais jovial, a novela ganhou espaço também na internet com várias ações paralelas. Tinha blog, site, ações, twitter, um verdadeiro universo estabelecido no mundo real como apoio à trama. O cuidado era tanto que o site de Victor Valentim não tinha uma única foto do personagem, já que isso acabaria com o disfarce de Ariclenes.O rosto só apareceu quando, na novela, a imprensa desmascarou o farsante.

Mesmo não tendo acompanhado a novela inteira, acredito que o saldo da trama foi positivo, tanto que a Globo agora entrou na onda de Hollywood de desencavar clássicos antigos com nova versão. Primeiro anunciou um temeroso remake de Guerra dos Sexos, coisa que eu realmente odiaria. Guerra dos Sexos é minha segunda novela favorita de todos os tempos, mexer nela para mim é quase pecado. Como recompor aquele elenco? Aquele momento? Agora, que a idéia voltou a hibernar, com a declaração de que o tema é parecido com algo que eles vão colocar no ar em breve, surge a notícia de que Cambalacho será a próxima vítima. Os fãs da novela vão ter que esquecer um pouco e acompanhar a novela como algo novo, mais ou menos como foi Tititi. Que Tina Pepper nos ajude.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Promessa de início de ano e A Cura

O Entre Breaks está meio abandonado, admito. Tenho me dedicado muito mais ao CinePipocaCult e pouco tenho escrito por aqui. A verdade é que a televisão brasileira esse ano não me empolgou muito. Por opção editorial, preferi não falar de séries americanas aqui, outra paixão recente minha, então, ficou meio sem assunto. 2011 promete ser um pouco melhor. Logo estreia a nova novela de Gilberto Braga, autor que escolhi para estudo de mestrado e volta O Clone no Vale a Pena Ver de Novo. Vale Tudo continua também firme na reprise do canal Viva. Tentarei postar algo por aqui, pelo menos uma vez por mês. Para não ficar só na promessa, resgato a melhor coisa que vi na televisão brasileira em 2010, a série A Cura, da Rede Globo.


A Cura começou em 10 de agosto de 2010, com episódios seriados sempre às terças-feiras. Escrita por João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, direção de Ricardo Waddington e Gustavo Fernandez e fotografia de Ricardo Gaglianone contava duas histórias paralelas em tempos distintos. No século XVIII, o garimpeiro Silvério, um homem sem escrúpulos que mata o amigo ao encontrarem um diamante e começa seu império maltratando escravos, enganando a coroa portuguesa e subjugando quem se aproxima. Nos tempos atuais, Dimas retorna a cidade natal onde é considerado um assassino. Quando criança ele foi encontrado retalhando um colega que havia caído de uma árvore. Sua família é descendente de Silvério que é visto como um benfeitor local e esta parece, a princípio, a única ligação dos dois tempos. Acontece que a cidade guarda outro mistério: o médico Otto, visto como curandeiro por uns e assassino por outros, tem na voz de Edelweiss sua maior defensora. Ela é quem diz a Dimas que ele veio para terminar o trabalho de seu antecessor, pois tem o mesmo dom de cura.

A série começou com essa trama de mistério base: Dimas tem um dom da cura ou é um esquizofrênico perigoso? E Otto? E qual a ligação de ambos com a história do século XVIII? Não é a primeira vez que João Emanuel Carneiro e Ricardo Waddington têm, na identidade do seu protagonista, o suspense que sustenta uma história. A telenovela A Favorita baseava-se na dúbia personalidade de Flora e Donatela, uma das duas estava mentindo e o público só descobriu isso no capítulo trinta. Em A Cura, eles foram além, pois várias eram as possibilidades. Apenas no penúltimo episódio as pistas levaram a uma dedução que se confirmou no último episódio da temporada. Agora o público sabe quem é Dimas, quem é Otto, quem foi Silvério e quem foi o menino Ezequiel que apareceu na trama do século XVIII no final do terceiro episódio. Resta saber o que nos reserva a segunda temporada. Pois, se os mistérios terminaram, o suspense da primeira temporada muda de foco, veremos uma caçada ao monstro e não mais uma rede a ser desvendada.

É de se admirar o que a equipe fez nesses nove episódios. O roteiro bem amarrado nos deixava em suspense constante. A direção e a fotografia colaboravam com a construção dos efeitos característicos. A câmera subjetiva, as penumbras, a trilha. A Cura é, sem dúvidas, uma série para marcar a história da teledramaturgia da Rede Globo. O elenco também estava afinado. Selton Mello e Juca de Oliveira criaram um embate interessante, sendo muito mais complicado de compreender que um deles era um assassino a princípio. Andreia Horta chega à emissora após o sucesso como Alice da HBO e consegue dar conta de sua Rosângela. Mesmo o preferido do autor, Carmo Dalla Vecchia, consegue trazer alguma verdade ao seu monstruoso Silvério, apesar dos trejeitos exagerados. Ary Fontoura é outro destaque como o médico cético Turíbio. E Eunice Braulio rouba a cena como a bisbilhoteira Nonoca. Ela é o ponto de apoio do telespectador, dando voz aos comentários da cidade e detalhando alguns mistérios passados. Além de ser o alívio cômico ao viver no telefone sem vender um único objeto de sua loja aos turistas.

No geral, A Cura surpreende em todos os aspectos. Por ser um projeto de história totalmente seriada, não apenas com episódios dependentes, mas com temporadas que não se encerram. Ao contrário de Som&Fúria que tem um final ao término da temporada, apesar da possibilidade de continuação. Ou de outras séries que a Globo vem testando como Força Tarefa, onde cada episódio se encerra em si, apesar do arco dramático dos personagens ter uma evolução durante a temporada. Com um bom aparato técnico de roteiro, direção, fotografia, som e elenco, além de uma força nos ganchos, A Cura deixa a expectativa para sua continuação. Torçamos para que não demore muito e que mantenha o nível da primeira.