domingo, 5 de junho de 2011

Cordel Encantado e a força do coronel

A novela Cordel Encantado melhora a cada dia. Uma verdadeira fábula que mistura vários ícones e lendas de nossa cultura ocidental, possui uma narrativa gostosa de acompanhar. Os diálogos são muito bem feitos, o figurino bem cuidado, a direção caprichosa e o elenco afinado. Um sucesso como não se via há muito na televisão brasileira. É interessante perceber as referências diversas aos contos de fadas em uma mistura de Cinderela e Bela Adormecia, a literatura de cordel com cangaceiro, herói nordestino e sagas diversas. Temos ainda referências ao homem da máscara de ferro que também se tornou uma espécie de Fantasma da Ópera dentro do cinema local. Uma espécie de Robin Hood no justiceiro de Jejuíno e Antonio Conselheiro na figura de Miguelzinho. Agora, uma coisa me incomoda na trama, a figura do Coronel.

O coronelismo dominou o nordeste que ainda hoje vive as consequências desse tipo de política. Ele era aquele rico fazendeiro, explorador do trabalho semi-escravo, mas que apesar de tudo possuía uma figura imponente, que através de um certo carisma enganava o povo que acabava admirando sua figura e sua política de pão e circo. O Coronel Januário Cabral, interpretado por Reginaldo Faria, era o típico Coronel nordestino, tanto que tinha até mesmo um acerto com o cangaceiro Herculano que o respeitava. Mas, com sua morte, um vazio ficou nessa história e seu filho Timóteo assumiu o seu posto sem convencer. Não falo isso pela interpretação de Bruno Galiasso, mas pela fraca construção do personagem.


Timóteo é o típico garoto mimado, sem regras nem limites que sempre viveu de pequenos golpes e nunca se conformou em perder alguma coisa que queria. Seu objeto de desejo: Açucena. Como ela sempre gostou de Jesuíno, este se tornou o arqui-inimigo do coronelzinho. Com a morte do pai, Timóteo se tornou o vilão maniqueísta clássico, sem nem um ponto positivo. Nada parece ficar a sua frente. Mas como ele consegue? Com meia dúzia de capangas domina prefeito, delegado, empregados e família? Até a família real de Seráfila sucumbe diante de seu "poder"? Um moleque sem o menor carisma, sem o menor sentido, ser levado a sério como um coronel? Tudo soa muito falso.

Para piorar temos agora sua junção ao atrapalhado delegado Batoré. Sua obsessão por Antônio já perdeu a graça e começa a partir para o lado do absurdo. Se o sequestro já ultrapassou limites, que podemos dizer da cena do capítulo de sábado quando ele invade a fazenda dizendo que roubaram Antônia dele e que ele a quer de volta? Apesar da sempre excelente atuação de Osmar Prado está difícil suportar as cenas de seu personagem. E pior ainda acompanhar a naturalidade com que sua irmã Neusa vê suas ações. Complicando ainda mais como todo bom melodrama, a pobre da Antônia não consegue casar com seu príncipe que agora só pensa na pobreza do povo do sertão? Será ele o rei esperado por Milguezinho?

Cordel, mesmo tendo que prolongar a narrativa por mais dois meses devido a boa audiência, continua encantando, mas essa pequena parte da trama incomoda. A mim, diria até que irrita. O que nos consola é poder acompanhar a cada vez mais emocionante trajetória de Jesuíno, Açucena, Felipe e Doralice. Ver a luta do capitão Herculano, a dor de Petrus e sua emocionante cena de retirada da máscara, o amor do Reio Augusto com Maria Cesária e as engraçadas observações da rainha Efigênia. Timóteo pode querer tentar ser dono de Brogodó, mas não vai conseguir estragar uma história tão bem arquitetada e executada. Já entrou para história.

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