segunda-feira, 13 de junho de 2011

A volta dos Anos Rebeldes

Amor e Revolução ainda tenta conquistar seus fãs, enquanto isso, o canal Viva reprisa desde o dia 30 de maio a minissérie Anos Rebeldes. Como é bom ver de novo Maria Lúcia, João Alfredo, Edgar e, principalmente, Heloísa preenchendo as nossas telas de televisão. É, sem dúvidas, minha minissérie preferida. Basta ler o post que fiz em 2009 sobre a obra. Hoje, queria levantar uma nova questão. Na época, a minissérie Anos Rebeldes foi associada ao movimento caras pintadas que lutou pelo impeachment do então presidente Collor de Mello. Será que hoje, ela funcionaria para pensar um pouco mais sobre o país?

Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito de forma direta, após vinte anos de regime militar, vencendo o candidato do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva no segundo turno em novembro de 1989. Seus lemas em campanha eram a “caça aos marajás”, combate à corrupção e progresso do país, representado por sua imagem jovem. Em maio de 1992, Pedro Collor de Mello, irmão do então presidente da república, entregou à Revista Veja provas de corrupção dentro do Governo, relacionadas ao tesoureiro Paulo César Farias, homem de total confiança do presidente. O caso foi investigado e, a cada nova denúncia, outros envolvidos foram aparecendo até atingir o próprio presidente. Collor resistiu até o dia 29 de dezembro de 1992 quando renunciou ao cargo. Ainda assim, foi julgado pelo Senado e condenado, perdendo seus direitos políticos por oito anos.

O povo só se envolveu diretamente no caso em 14 de agosto de 1992 quando uma enorme passeata de estudantes cobriu as ruas do Rio de Janeiro pedindo o afastamento do presidente Fernando Collor de Mello. Com criatividade, os jovens pintaram suas caras com tinta, nas cores da bandeira do Brasil, daí o apelido de “Caras Pintadas”, além de faixas e cartazes diversos. Entre os cartazes, um chama a atenção para o tema: “Anos Rebeldes, próximo capítulo: Fora Collor, impeachment já”, em referência à minissérie da Rede Globo que terminava naquele dia. O presidente foi, então, à televisão pedir que a população saísse no domingo seguinte com as cores da bandeira em sinal de apoio ao governo. Em todo o país, as pessoas responderam saindo às ruas de preto, instalando de vez a manifestação popular a favor do impeachment, que foi visto como um dos principais motivos para o processo ter ido até o fim, principalmente pela aproximação das eleições para prefeito.

A minissérie Anos Rebeldes foi ao ar de 14 de julho a 14 de agosto de 1992, com vinte capítulos, retratando o período da ditadura militar que aconteceu no país sob a óptica de um grupo de jovens divididos entre idealistas e individualistas. Era a primeira obra de ficção na televisão a retratar o período e serviu como um resgate histórico para a população que antes vivia sob censura. A disputa simbólica de ideais pode ser resumida nos personagens João Alfredo e Heloísa, dois idealistas extremistas que se envolvem na luta armada e tentam derrubar o regime. E nos personagens Maria Lúcia e Edgar, dois individualistas, mas não de má índole, que preferem não se envolver e continuar suas vidas, independente da situação.

Em 1992, parecia mesmo que os jovens buscavam essa identificação, por isso, o movimento caras pintadas usava símbolos da minissérie como a música Alegria Alegria de Caetano Veloso, tema de abertura da minissérie, em suas caminhadas. Hoje, após quase vinte anos, a corrupção no país continua, vide o recente caso Palocci, mas parece que nos acostumamos a ela. Será que a reprise de Anos Rebeldes tem alguma chance de acordar novamente a juventudade brasileira em manifestações democráticas? Se ajudar a, pelo menos, pensar melhor na hora de votar, já vai ser um grande feito, pena que não temos eleições no país este ano.

Nenhum comentário: