quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cordel Encantado: uma beleza de novela

Telenovelas sempre foram uma paixão minha. Tanto que criei esse blog e escolhi o produto como minha pesquisa de mestrado. Noveleira nata, no entanto, estava sofrendo com as últimas obras da nossa televisão que sempre traziam tramas aquém das apresentadas anteriormente. Eis que surge Cordel Encatado. Trama das 18hs da Rede Globo como um bálsamo em minha televisão, devolvendo o prazer de assistir a uma telenovela. Interessante que seja logo uma trama tão diferente daquilo que se configurou como uma telenovela brasileira, afinal temos reis e rainhas de reinos distantes, imagens com qualidade próximas ao cinema e uma mistura de fantasia interessante que nos remete aos antigos folhetins. Mas, para que ninguém diga que não é telenovela, temos, também, ação, comédia, romance e aventura bem dosados em um roteiro inteligente com bom ritmo e diálogos na medida certa que vão nos enovelando a cada dia.

Já no primeiro capítulo somos surpreendidos com a produção. Gravado na Europa em castelos, vemos uma batalha épica com proporções gigantescas. Claro que muito figurante ali deve ter sido colocado por computação gráfica, mas um desavisado que ligasse o canal na hora poderia confundir com um filme ou uma série norte americana, tamanho o cuidado com a direção de arte e o realismo das batalhas. A fotografia, então, é extremamente bem cuidada. sabemos que primeiro capítulo de novela sempre tem um capricho extra, mas Cordel Encantado conseguiu manter o nível durante toda a primeira semana, com sequências impressionantes, cuidados com enquadramento e movimento de câmera. O elenco é outro destaque. Bem introsado com personagens bem construídos e um humor constante. Principalmente por Bertra Loran como a Rainha Mãe, que está dando um show de bom humor. Já entra para o hall de grandes personagens da nossa teledramaturgia.


Temos mocinhos e mocinhas, vilões e personagens dúbios como todo bom folhetim. Apesar da evolução da nossa teledramaturgia com obras mais próximas do nosso cotidiano, a realidade parece que exagerou e nos invadiu de uma forma que ficamos cansados. É um ótimo respiro ver algo mágico que mistura o nordeste do século passado já tão comum ao horário com um reino distante dos contos de fadas. Quem não sonha com um príncipe encantado? E o mais interessante nessa mistura é que temos um quarteto amoroso totalmente indefinido nessa construção mágica. Afinal, nenhum deles é vilão, e os quatro se misturam entre amor, destino e desejo. Jesuíno, Açuncena, Dora e o príncipe Felipe ainda podem se misturar e muito nessa história.

Outra boa sacada da trama é lidar com o cangaço. Parte da nossa história bastante polêmico, onde uns vêem como bandidos cruéis e outros como justiceiros do povo. Através do personagem Herculano temos uma nova visão de honra, onde não faltam referências históricas, nem discussões filosóficas, principalmente dos intelectuais de esquerda. Thelma Guedes e Duca Rachid parece que finalmente acertaram seu texto dosando amor, fantasia, política, discussões sociais de uma forma harmônica. E a direção de Amora Mautner com supervisão de Ricardo Waddington, salta aos olhos como um produto diferenciado na televisão.

Coroando a boa produção, a telenovela tem rendido bons índices no Ibope, aos poucos foi crescendo pontos e já bateu recordes atuais de audiência, superando sua antecessora e chegando a medir a mesma coisa que a telenovela do horário das sete. Se continuar com o boca boca positivo, logo Cordel Encantado se torna fenômeno de audiência. Que bom que podemos contar com uma boa telenovela no ar atualmente.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Amor e Revolução

Estreou ontem a novela novela de Tiago Santiago no SBT. Amor e Revolução se passa na época da ditadura militar e tem o golpe como pano de fundo de um amor proibido. Fica difícil não comparar com Anos Rebeldes, uma das melhores minisséries da Rede Globo já que o período e o mote são parecidos. A diferença básica é que o revolucionário João Alfredo e a alienada Maria Lúcia da minissérie não estavam em lados tão opostos quanto a revolucionária Maria e o militar José Guerra. Ainda assim, o romance foi uma inserção quase discreta no capítulo inicial da telenovela que carregou as tintas no golpe com muitas cenas de correria, tiros, massacres, tortura. É irônico ver a forma como nos foi apresentada a passagem de democracia para ditadura, os personagens agiam como se já soubessem o que vinha pela frente, o que não é totalmente verdade. Tiago Santiago e a direção nos apresentaram os anos de chumbo se esquecendo que estávamos apenas em abril de 1964, a maioria das pessoas não tinha a menor idéia do que estava acontecendo ainda, muitas cenas soaram falsas como se lessem um livro de história.

A direção de atores e os diálogos são os pontos mais problemáticos, mas a intenção parece ser boa. Há um cuidado na direção de arte e reconstituição de época. Citação de fatos reais, como mortes e prisões. Além do depoimento ao final do capítulo, da mesma forma como as telenovelas de Manoel Carlos na emissora concorrente. Isso dá uma forma maior a trama, nos envolvendo no drama que nosso país viveu em vinte anos de tortura. Mesmo que tenha erros, acaba gerando curiosidade. Nisso Tiago Santiago acertou em cheio.


Outro problema do capítulo foi a trilha sonora. Nem vou entrar no mérito de que todas as músicas ali tocadas são ícones da luta contra ditadura e foram criadas anos depois daquelas primeiras cenas. Nem sempre contamos com um Gilberto Braga que teve o cuidado de na trilha de Anos Rebeldes colocar algumas músicas só em instrumental antes de chegar a época em que ela foi criada. Mas, houve um excesso imenso de melodias a cada cena. Parece que toda a trilha sonora da telenovela tocou no primeiro capítulo. Isso, além de ser exagerado acaba tirando a surpresa de algumas canções que poderiam vir mais a frente, gerando um maior impacto.

Ainda é cedo para dizer que Amor e Revolução é uma boa novela e se irá conseguir subir o Ibope do SBT, mas uma coisa pelo menos já podemos admirar. Sua abertura. Mesmo sem os recursos de Hans Donner e os aparelhos da Rede Globo, a idéia criativa é perfeita. Ao som de Roda Vida, música de Chico Buarque de Holanda composta em 1967, vamos acompanhando algumas cenas simbólicas do estado de ditadura. Começa com a cadeira do presidente onde um general aparece e depois vemos cenas cotidianas como uma família ao redor da mesa e o pai sumindo. Depois cenas mais característica como um depoimento, uma sala de tortura, um palco, o meio da rua, a redação de um jornal, a sala de aula.

A escolha do SBT em apresentar o capítulo sem cortes e a abertura no final, como a própria Rede Record já fez tantas vezes, foi bastante feliz. Primeiro porque sem comerciais, não saímos do canal, curiosos com o capítulo. Depois, porque terminar com essa abertura inteligente e a música emocionante de Chico foi a melhor maneira de nos deixar um gancho para o próximo capítulo. Uma promessa de que as coisas podem melhorar. Tomara.