quarta-feira, 6 de abril de 2011

Amor e Revolução

Estreou ontem a novela novela de Tiago Santiago no SBT. Amor e Revolução se passa na época da ditadura militar e tem o golpe como pano de fundo de um amor proibido. Fica difícil não comparar com Anos Rebeldes, uma das melhores minisséries da Rede Globo já que o período e o mote são parecidos. A diferença básica é que o revolucionário João Alfredo e a alienada Maria Lúcia da minissérie não estavam em lados tão opostos quanto a revolucionária Maria e o militar José Guerra. Ainda assim, o romance foi uma inserção quase discreta no capítulo inicial da telenovela que carregou as tintas no golpe com muitas cenas de correria, tiros, massacres, tortura. É irônico ver a forma como nos foi apresentada a passagem de democracia para ditadura, os personagens agiam como se já soubessem o que vinha pela frente, o que não é totalmente verdade. Tiago Santiago e a direção nos apresentaram os anos de chumbo se esquecendo que estávamos apenas em abril de 1964, a maioria das pessoas não tinha a menor idéia do que estava acontecendo ainda, muitas cenas soaram falsas como se lessem um livro de história.

A direção de atores e os diálogos são os pontos mais problemáticos, mas a intenção parece ser boa. Há um cuidado na direção de arte e reconstituição de época. Citação de fatos reais, como mortes e prisões. Além do depoimento ao final do capítulo, da mesma forma como as telenovelas de Manoel Carlos na emissora concorrente. Isso dá uma forma maior a trama, nos envolvendo no drama que nosso país viveu em vinte anos de tortura. Mesmo que tenha erros, acaba gerando curiosidade. Nisso Tiago Santiago acertou em cheio.


Outro problema do capítulo foi a trilha sonora. Nem vou entrar no mérito de que todas as músicas ali tocadas são ícones da luta contra ditadura e foram criadas anos depois daquelas primeiras cenas. Nem sempre contamos com um Gilberto Braga que teve o cuidado de na trilha de Anos Rebeldes colocar algumas músicas só em instrumental antes de chegar a época em que ela foi criada. Mas, houve um excesso imenso de melodias a cada cena. Parece que toda a trilha sonora da telenovela tocou no primeiro capítulo. Isso, além de ser exagerado acaba tirando a surpresa de algumas canções que poderiam vir mais a frente, gerando um maior impacto.

Ainda é cedo para dizer que Amor e Revolução é uma boa novela e se irá conseguir subir o Ibope do SBT, mas uma coisa pelo menos já podemos admirar. Sua abertura. Mesmo sem os recursos de Hans Donner e os aparelhos da Rede Globo, a idéia criativa é perfeita. Ao som de Roda Vida, música de Chico Buarque de Holanda composta em 1967, vamos acompanhando algumas cenas simbólicas do estado de ditadura. Começa com a cadeira do presidente onde um general aparece e depois vemos cenas cotidianas como uma família ao redor da mesa e o pai sumindo. Depois cenas mais característica como um depoimento, uma sala de tortura, um palco, o meio da rua, a redação de um jornal, a sala de aula.

A escolha do SBT em apresentar o capítulo sem cortes e a abertura no final, como a própria Rede Record já fez tantas vezes, foi bastante feliz. Primeiro porque sem comerciais, não saímos do canal, curiosos com o capítulo. Depois, porque terminar com essa abertura inteligente e a música emocionante de Chico foi a melhor maneira de nos deixar um gancho para o próximo capítulo. Uma promessa de que as coisas podem melhorar. Tomara. 

Um comentário:

Daniel Pepe disse...

Oi, Amanda

Só pude conferir hoje a estreia pelo Youtube e em seguida já vi o segundo capítulo.

Me incomodou isso que vc disse, dos personagens parecerem que sabem do rumo da história. Muito lúcidos eles! Como ficção estou gostando, mas não dá pra desconsiderar que se trata de um período histórico, então esse detalhe acaba atrapalhando um pouco.

O didatismo já não irrita tanto quanto nas outras novelas do autor. Isso vai ajudar muito a continuar acompanhando.