sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quem matou Salomão Hayalla?

A pergunta com a qual Janete Clair parou o Brasil em 1978 voltou ontem à noite. No capítulo, Salomão Hayalla, agora interpretado por Daniel Filho, foi assassinado por alguém misterioso, que agora deixou um botão branco como pista. Será que o Brasil vai se movimentar novamente em torno da pergunta fatídica? Pelo menos no twitter ela apareceu inúmeras vezes enquando o capítulo era exibido.

Mas, engana-se quem acredita que esse foi o primeiro "Quem Matou" em telenovelas. Nem mesmo foi Janete Clair, como muitos afirmam, que introduziu o mistério policial nas tramas. Em 1966, Glória Magadan criou o personagem "Rato", primeiro serial killer no gênero televisivo que matou metade do elenco para proteger o tal Sheik. No final da novela, revelou-se que o Rato era a princesa Eden de Bassora. Janete Clair só iria utilizar esse recurso em 1969 na telenovela Véu de Noiva e quase por acaso. O ator Geraldo Del Rey, que fazia o Luciano pediu para sair da trama. Clair, então, criou o assassinato misterioso. "Quem matou Luciano?" não fez tanto sucesso assim, mas marcou o gênero. A assassina foi a personagem de Ana Ariel.

Mesmo com esses dois mistérios, além de um utilizado por Dias Gomes também sem muita repercussão, o "Quem matou Salomão Hayalla?" foi o primeiro grande mistério nacional. O Brasil inteiro se perguntava o nome do assassino, vários bolões foram feitos, a imprensa explorou bastante o mistério e até mesmo o ator Edwin Luisi ficou na dúvida se seu personagem Felipe seria o assassino ou não. Naquela época, Janete Clair não tinha tanta preocupação com o mistério e quando convidou o ator para a telenovela já ofereceu o papel do assassino de Salomão Hayalla. Mas, as reviravoltas só serviram para surpreender a todos com a confirmação do nome do assassino.

A pergunta "Quem matou Salomão Hayalla?" só foi superada em 1988, com o famoso "Quem matou Odete Roitman?" na telenovela Vale Tudo, recentemente reprisada no Canal Viva. Todo o Brasil parou novamente em torno da pergunta e o Caldo Maggi fez um concurso nacional com um prêmio em dinheiro para quem acertasse o mistério. Dez anos depois, a indústria da televisão já estava mais organizada e o esquema para encobrir o nome do assassino teve que ser melhor organizado. Os autores chegaram a escrever cinco finais diferentes e a cena da revelação só foi gravada no dia em que o capítulo foi ao ar. No final, o Brasil se surpreendeu com a notícia de que Leila havia matado a empresária por engano. Queria matar Maria de Fátima que estava tendo um caso com seu marido, Marco Aurélio.



Os autores de Vale Tudo ainda iriam repetir a fórmula de mistério. Aguinaldo Silva, que assinou a co-autoria da trama, apesar de hoje abominar o recurso, utilizou na trama seguinte com o "Quem matou Arturzinho da Tapitanga?". Já Gilberto Braga, o autor principal, dono da sinopse, já havia utilizado a fórmula em Água Viva, com "Quem matou Miguel Fragonari?" e na minissérie Anos Dourados com "Quem matou Lutero?". Anos depois, essa pergunta se tornaria uma marca autoral, já que a partir da minissérie Labirinto, em 1998, todas as duas tramas teriam um "Quem matou?". E muitos já anunciaram e esperam a pergunta em sua atual telenovela: Insensato Coração. "Quem matou Tais Grinaldi?" em Paraíso Tropical. "Quem matou Lineu Vasconcellos?" em Celebridade. E finalmente, o que considero a melhor solução: "Quem matou o Barão Henrique Sobral?" em Força de Um Desejo.

Por que Força de um Desejo tem a melhor solução? Porque a resposta foi completamente surpreendente e coerente ao mesmo tempo. Bárbara Ventura era a última personagem em quem alguém iria apostar as fichas para o nome da assassina. Ela era o alívio cômico da trama. Todas as pistas levavam para a Fazenda Morro Alto e se fosse Higino Ventura o responsável seria muito óbvio. Ser sua esposa por si só não diz muito, mas quando foi explicado o início do assassinato em série, tudo fez um sentido imenso. Bárbara matou a baronesa Helena Sobral, paixão de adolescência de seu marido. O resto foi consequência para encobrir o primeiro crime.

Além disso, a solução da trama foi explicada com cenas da telenovela. Hoje, analisando-a com detalhes posso perceber que desde o início os indícios estavam lá. São muitos detalhes que parecem passar despercebidos como a tentativa de aproximação de Bárbara de pessoas que conhecessem a baronesa. A cumplicidade do capanga Vitório ao fazer com que o médico Xavier voltasse a ser o médico dos Ventura, a doação dos remédios da baronesa Helena à Xavier, após sua morte, fazendo com que o médico pudesse descobrir o primeiro assassinato de Bárbara e fosse morto por isso. A aparição de Bárbara no bar, na noite em que o padre foi assassinado. A escrava da fazenda dos Castro Rebelo e seu medo de Higino Ventura, a ligação das mortes pelo remédio. A visita do Barão ao amigo Castro Rebelo no dia de sua morte. A necessidade de falar com Alice. Enfim, tudo se encaixa perfeitamente. Para completar, a forma como tudo foi descoberto foi muito divertido, com uma falsa notícia de confissão de Higino Ventura, que fez Bárbara confessar o crime.


Outros autores também já utilizaram do recurso, como Lauro César Muniz e Sílvio de Abreu, este tendo até mesmo realizado uma telenovela totalmente voltada para um serial killer: A Próxima Vítima. A trama fez um enorme sucesso revelando o nome de Adalberto como o assassino na versão brasileira. Já em Portugal, o final exibido foi com Ulisses como responsável pelas mortes, esse final foi exibido também na versão do Vale a Pena Ver de Novo da Rede Globo. A última telenovela de Sílvio de Abreu também teve um assassinato. Primeiro ele fez uma tentativa de repetir o mistério de O Rebu com a pergunta "Quem morreu?", mas não funcionou direito, pois no capítulo vários personagens brigaram com o personagem Saulo, dando indícios que ele seria o assassinado.

O fato é que, bem feito ou não, com muita ou pouca repercussão, mistério policial e telenovela parece mesmo um bom casamento para a boa audiência. Resta saber como será a repercussão desse novo "Quem matou Salomão Hayalla?" e se isso vai fazer Gilberto Braga e Ricardo Linhares desistirem de perguntar ao país "Quem matou Léo?"

2 comentários:

Daniel Pepe disse...

O clima de suspense anterior à morte de Salomão me lembrou bastante Força de um Desejo: Alcides Nogueira e Mauro Mendonça Filho estavam entre os produtores nas duas. Espero que o desfecho seja tão bom quanto foi da primeira vez. Já estou anotando as pistas!

E.S. disse...

Parabéns por recordar-se de Foraça de um Desejo, de longe uma das melhores novelas já feitas! Uma obra prima que infelizmente é desvalorizada pelo próprio Gilberto Braga, que nunca a cita e considerou um "rebaixamento" escrever uma novela para as 18 horas. Preconceito puro. Força de um Desejo é daquelas novelas que quem assistiu, tem na lista de preferidas.