segunda-feira, 6 de abril de 2009

Lembranças da infância

Hoje eu estava passeando pela net e encontrei algo que me fez entrar no túnel do tempo, em 1989, quando era uma criança começando a gostar de telenovelas. Foi o álbum de figurinhas de Que Rei Sou Eu? trama escrita por Cassiano Gabus Mendes como uma sátira ao momento político brasileiro. Estávamos as bocas da primeira eleição direta do país após 20 anos de ditadura militar. Tudo era euforia, após a constituição de 1988.

Cassiano buscou inspiração em obras como Os três mosqueteiros e O homem da máscara de ferro, ambas de Alexandre Dumas, para escrever a primeira trama de capa e espada na nossa dramaturgia. A história se passava em 1786, as vésperas da Revolução Francesa que acabou com o absolutismo na França e inspirou movimentos libertários em todo o mundo. O país era a fictícia Avilan, onde o Rei Petrus II falecia deixando em um testamento a existência de um príncipe bastardo. O rapaz era o rebelde Jean Pierre interpretado por Edson Celulari, mas o Bruxo Ravengar inventava um falso príncipe, pegando o mendigo Pichot (Tato Gabus Mendes) para treinar como seu discípulo e futuro rei.

Toda a ação, luta de espadas, clima medieval chamou a atenção das crianças que adoravam a novela, por isso, a Globo inovou lançando pela primeira vez um álbum de figurinhas de uma de suas tramas.

A trama marcou, também, pela sátira política, chamando a atenção dos espectadores mais cultos, porém gerou revolta entre os partidários da esquerda que atribuíram o jovem Jean Pierre ao caçador de marajás Collor de Mello, que acabou se elegendo. A Rede Globo estava transmitindo na mesma época a novela O Salvador da Pátria, onde Sassá Mutema era comparado ao metalúrgico Lula, nosso atual presidente da república, mas que naquela época era apenas um candidato em uma de suas muitas tentativas de chegar ao cargo máximo do país.

Cassiano, no entanto, não parecia partidário, atirava críticas para todos os lados e deixou seu recado no final da novela. Com discurso inflamado, Bergeron (Daniel Filho) pediu ao povo que prestasse atenção ao voto. Jean Pierre mandou todos gritarem "Viva ao Brasil" e Ravengar (Antonio Abujamra) voltou como Richelieu . Rasputin . Golbery, alertando ao povo para a volta dos velhos políticos, que estão até hoje no poder.



Até o narrador da reportagem diz que seria uma boa pedida para reprise. Inexplicavelmente, ou até mesmo por essas críticas todas, Que Rei Sou Eu? nunca foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo. Teve apenas um compacto de um mês na Sessão Aventura, menos de um ano antes do seu término. É a campeã de pedidos de retorno na emissora. Mas, pelo visto, vai ficar apenas na vontade, já que são cada vez mais recentes as novelas que voltam no horário da tarde.

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