segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Bela, a Feia - Tiro no pé da Record

Quando as telenovelas invadiram o mercado latino-americano nas décadas de 50/60, a linguagem era única e o melodrama clássico, focado no drama familiar cheio de emoções exarcebadas. No Brasil não era diferente, foi assim que clássicos como O Direito de Nascer consagraram personagens como a mamãe Dolores, a mulher sofredora, mas conformada, que amava em excesso. O nosso país era invadido por textos recauchutados vindo principalmente do México, com histórias que se passavam em reinos distantes e sem um link com a atualidade. Com o rompimento desse formato e a saída definitiva de Glória Magadan da Globo, as novelas brasileiras passaram a ter uma linguagem própria, próxima do cotidiano do país e com discussões políticas e sociais misturadas aos ainda presentes casos de amor que regem o folhetim.

Desde então, as novelas do antigo formato ficaram conhecidas como "dramalhões mexicanos", mesmo se vindas da Colômbia, Venezuela, ou outro país latino. O fato é que essas tramas mais melosas, restritas ao seio familiar e com produções menos caprichadas ficaram reduzidas a um espaço específico e a um público específico, sendo consideradas inferiores pelo senso comum.

Sendo assim, após um mês de exibição da novela Bela, a Feia, podemos concluir que a versão da novela colombiana Bety,a Feia foi um verdadeiro tiro no pé da Rede Record. Ao contrário do que fizeram os americanos que melhoraram a linguagem, tornando Ugly Betty bem parecida com a maioria das sitcoms do país, a Record preferiu manter o formato da original, criando um estranhamento entre seus telespectadores.

Thiago Santiago não é nenhum gênio, escreve diálogos pífios, mas criou um público fiel. Quem gostava dos Mutantes e suas continuações, não deve estar gostando nem um pouco de Bela. E o resultado se vê no Ibope caindo a cada dia. Não acho que seja nem o problema do formato, mas da expectativa. Quem quer novela mexicana vai procurar novela mexicana. A Record não deveria ter simplesmente jogado o formato no susto.

Caso semelhante aconteceu com a Televisa, na tentativa de fazer um remake de Vale Tudo. Não funciona. A linguagem era brasileira demais para funcionar em outro país. Ou a história é universal (como a eterna Direito de Nascer, realizada em vários países) ou tem que sofrer uma adaptação na estrutura, na linguagem. Caso contrário, melhor reprisar a original mesmo.



Quanto a Rede Record, é preciso repensar o núcleo de teledramaturgia da emissora urgente. Seria triste após tanto investimento, assistir ao naufrágio desse pólo.

5 comentários:

blog da juliana disse...

Eu tenho uma teoria diferente, Amandinha. Não foi o formato (até porque, pelo menos dos poucos capítulos que vi, eles "chuparam" muito mais de "Ugly Betty" que de "Betty, la fea"), mas a falta de comprometimento. Eles confiaram demais na aura que a história tem, ao redor do mundo. Às vezes, penso a Record como o "purgatório" da televisão brasileira: nem o céu (Globo), nem o inferno (SBT). Eles ainda não tem aquela preocupação com o "acabamento" que a rival carioca tem.
Eu acho que o material televisivo dos hermanos é subestimado por aqui. Eventualmente, produzem boas histórias, assim como acontece com o Brasil, que de melhor, efetivamente, tem a produção. O melhor das telenovelas globais, a meu ver, não está necessariamente no roteiro, mas na CGP (risos). A Globo já pôs e põe muiiita porcaria no ar - que o diga a última de Calmon! É uma pena que a versão brasileira tenha subido no telhado, pois eles tinham uma idéia boa na mão, e perfeitamente adaptável para a cultura brasileira. Mas não me surpreendi, pois já esperava por isso, de certo modo.

Amanda Aouad disse...

Respeito, mas ainda discordo, Ju. O que você chama de descomprometimento, eu continuo achando que é o estilo. Não estou desmerecendo os hermanos, sei que a Globo faz muita porcaria, aliás é o que mais tem feito nos últimos anos. Mas, o texto é diferente, a produção é diferente, a linguagem é diferente. Bela, a Feia tem uma história rasa, tal qual a original, é tudo muito simplório, por isso discordo que seja mais parecida com Ugly. A série construíu personagens mais redondos, com tramas mais profundas, desdobramentos, não é a coisa maniqueísta caricata de Betty e Bela.
Mas, o diálgo é sempre bom, continue expondo seus pontos de vista que a gente chega a algum lugar, ou não, hehe.
bjs

Nobrezito disse...

Queridas, eu não estou acompanhando BELA, A FEIA. Minha teoria (sou que nem a Ju: cheio delas!) é bem menos fundamentada e que funciona melhor do que as divagações intelectuais de vocês. A culpa é o pé-frio da Gisele Itié mesmo! Hiuahaua! Sério, dá uma olhada no currículo dela e verificar que trabalho onde ela mete o pé, naufraga! Se o filme do Stallone for pro mesmo caminho, não vou me surpreender. Tchê, fora de brincadeira e constatações estúpidas que nem a minha, olhei alguns capítulos de BELA, A FEIA e não me cativou tal como a original colombiana. Lembro que na versão pioneira exibida por aqui na Rede TV!, eu olhava encantado aquela história com uma expectativa bem diferente: que os cenários não caíssem de tão toscos que eram. rsrsrs! Vocês sabem que sou do Rio Grande do Sul e posso confirmar o que a Ju disse: subestimamos a produção dos hermanos argentinos. Eles estão estupendos! Depois da crise em que eles quase faliram ali por 2000 ou 2001, as emissoras argentinas tiveram que deixar o estilo Globo de produção audiovisual (as próprias emissoras produzindo os seus programas) para seguir um modelo de terceirizar a produção por meio de produtoras indepentender, o que gera uma pluralidade de produções e pode gerar mais empregos no ramo. Há uns dez anos, olhei "Além do Horizonte" com Grécia Colmenares (de "Topázio", novela "mexicana" produzida, na verdade, na Venezuela quando tinha um governo decente) no papel principal. Anos depois, vi a gritante diferença qualitativa com "La LoLa" exibida por aqui pelo SBT com fracasso acredito que por ser a frente demais do tipo de produção que o público de novela do Anhanguera está acostumado. ENTRETANTO, tal como Amanda, estou na torcida que todos os investimentos em teledramaturgia no Brasil dêem certo sim e para diferentes tipos de público. Erros acontecem, sim. BELA, A FEIA até o momento tem se mostrado um por mais que tentem fazer mostrar o contrário. Mas ainda há tempo de um, como dizemos nas linguagens de roteiro, "ponto de virada" tanto na história, linguagem e audiência. Novela tem essa vantagem por ser aberta, todo sabem. E mesmo que não estoure a boca do balão, eu torço para que Gisele Joras consiga dar a volta por cima. Ao menos, se não conseguir tranformar em mega-sucesso, que termine o trabalho com dignidade. Abraços do Nobrezito (agora com blog! nobrezito.blogspot.com )

blog da juliana disse...

Eu não acho Ugly Betty, digamos, mais profunda que Betty, a fea. Digamos que a versão americana é um pouco mais dramática, e isso não necessariamente implica em profundidade. Eu acho que os americanos capricharam mais na adaptação. Talvez mais ligados nas diferenças culturais, tiveram mais cuidado. E Salma Hayek fez um excelente trabalho americanizando a história, mas sem descaracterizá-la. Eu mal acreditei quando vi. Foi esse empenho que o povo da Record não teve. Eles acharam que por ser uma história famosa em todo mundo, poderiam fazer qualquer coisa que seria sucesso.
As grandes novelas, a meu ver, não precisam de temas profundos. Raramente elas são complexas. Quer coisa mais simplória que Paraíso? E tá bombando... A meu ver, os hermanos têm boas histórias, sim; o que ferra com as produções latinas é a falta de capricho, de produção. Ok, eles são over (na interpretação, na aparência), mas isso é traço da cultura deles. Almodóvar tb é over, e ninguém estranha.
Betty tem um tema que é universal: o da rejeição pela aparência. Todo mundo ou passou ou vai passar por isso. Foi bola fora da Record, não foi deficiência da trama original, na minha opinião.

Larissa Paim disse...

Olha, a história de Betty foi recontada no mundo todo e fez sucesso. Acho que o maior erro da Record foi não ter adaptado a história para o contexto brasileiro, algo que a versão americana fez muito bem - e que me parece ser, também, o que matou Donas de Casa Desesperadas logo de cara. Aliás, aí está o problema, não é? Esperamos demais dessa nova versão, da Betty brasileira (tinha que ser Itié?). Embora o óculos-aparelho-roupa-estranha seja "universal", a telenovela não deveria, de alguma forma, trazer algo de novo para se diferenciar em relação às "irmãs"? Pelo menos o povo na versão indiana dança... Bom, nada contra a parte de produção até aqui, mas a Record realmente tinha que ressucitar Sílvia Pfiffer, "Cabeção", "Dona Vilma" e meio elenco de Malhação (aquela parcela que não ganhou espaço em horário nobre) em uma única telenovela??